Lucas Barros – Fundador do canal Central do Trabalhismo, militante da Juventude Socialista e do Núcleo de Base Ação Popular Revolucionária
Após o conturbado ano eleitoral de 2022, quando nós, o PDT, tivemos um dos piores resultados eleitorais da nossa história (ou o pior), fomos beneficiados com uma vitória: a derrota do pior presidente da história brasileira. No segundo turno, o PDT, compreendendo a gravidade do momento histórico, não hesitou em fazer campanha para a chapa Lula-Alckmin e inexoravelmente contra Bolsonaro.
Após o presidente Lula ser eleito, a escolha do PDT foi de fazer parte do novo governo. Desde sempre fui favorável a tal decisão, entendendo que o ministro Carlos Lupi está fazendo um trabalho inegavelmente de sucesso no ministério, sem se render aos interesses dos bancos.
Continuo com a mesma opinião. Entretanto, há de se diferenciar o fato de termos um ministério em nossas mãos e, portanto, sermos base, e uma falta de autonomia completa. Muito antes do nosso apoio à Lula, somos o mesmo Partido Democrático Trabalhista de sempre, o partido socialista, nacionalista, que foi rebelde e revolucionário sempre que necessário.
Nesse momento, o governo Lula está, entre outras coisas, ampliando ferramentas de desestatização da economia, como é o caso do PPI (Programa de Parceria de Investimentos), programa de PPPs criado pelo governo de Michel Temer e ampliado por Lula, quando adicionou itens como saúde, educação e presídios; aprofundando as políticas de austeridade fiscal, não apenas criando um novo teto de gastos, o Novo Arcabouço Fiscal (NAF), como também atacando os pisos constitucionais da saúde e da educação – matematicamente incompatíveis com o NAF -; atacando a aposentadoria de 20 milhões de brasileiros – ao defender a desvinculação de benefícios de INSS do salário mínimo – e muito mais. Está, em suma, direcionando sua atuação aos interesses de quem manda no nosso país.
Sou favorável ao PDT ser base, visto que Lupi está mostrando, na prática, a possibilidade de empurrar o governo à esquerda. Mas a bancada, os eleitos, a base, a militância… meu apelo é para que estes larguem o apoio incondicional
ao governo Lula. Esse governo vai contra tudo que o trabalhismo brasileiro, em sua invejável trajetória histórica, sempre pautou.
Primeiro, sobre a bancada. Os nossos deputados têm a chance, para além de disputar a narrativa na forma de questionamentos e pressão sob o Governo Federal, de tentar reverter o indefensável. Ser base pressupõe acompanhar votação em absolutamente tudo? O partido da educação não pode, na minha visão, votar favorável a uma regra fiscal incompatível com os mínimos constitucionais da educação. Em segundo lugar, existem PLPs de deputados de outros partidos DE BASE – como o PSOL – que propõem a retirada dos pisos constitucionais da saúde e da educação do NAF, por exemplo. Ou o PDL que pretendia revogar a privatização de presídios. O PDT apoia essas medidas ou propôs algo nesse sentido?
E a base, a militância do partido, mais ainda, precisa questionar e cobrar. Vejo que esse ponto está razoavelmente bem resolvido, a base sabe cobrar e não defender o indefensável. São poucos os que colocam a mão no fogo pelo governo Lula. Deixo uma menção especial para os militantes da Juventude Socialista – que, por exemplo, se posicionou publicamente contrária ao novo teto de gastos, o NAF, e ao ataque aos pisos constitucionais, entre outros – e da Ação Popular Revolucionária – Núcleo de Base marxista do PDT, que tem cumprido com maestria o papel de ser, como diz o Presidente Nacional da APR, Júlio Kaisah, o “punho esquerdo” do partido.
No fim, o governo Lula está legitimando o neoliberalismo, a superexploração do trabalho e a dependência e fazendo todo o campo progressista defender calado. Aprofundando a austeridade e as privatizações, vendendo empresas nacionais para o estrangeiro, deixando o MEC na mão do Jorge Paulo Lemann, ampliando a uberização, atacando movimentos sociais, o sindicalismo e muito mais.
Um governo rendido e extremamente covarde de uma ponta à outra.
Enquanto isso, felizes estão os que se beneficiam com a priorização de interesses privados e estrangeiros.
O PDT tem uma oportunidade de ouro de destacar-se no cenário nacional atualmente. Qual será o papel dos trabalhistas em tal fase da vida brasileira? Afinal, o exemplo somos nós. Brizola, anteriormente, rompeu por muito menos. E nem é isso que estou propondo.
O trabalhismo é a grande saída para o Brasil. Tenho essa convicção guardada no fundo do meu coração e jamais a deixarei de lado. O trabalhismo, corrente política nacionalista de esquerda, anti-imperialista, dedicada à construção da soberania nacional e do socialismo brasileiro, não combina com a traição aos interesses nacionais por parte do governo Lula.
Afinal, fomos nós que construímos o Brasil moderno, que rompemos com o modelo monodependente da agropecuária e fundamos a Petrobrás, a Eletrobrás, a Vale do Rio Doce, a CSN e muito mais; fomos nós que idealizamos e colocamos em prática o mais avançado, sofisticado e bonito molde educacional da história brasileira, os CIEPs: que não apenas funcionava como educação em tempo integral, mas como uma educação que prestava a devida atenção a integralidade das crianças, a maior paixão do Brizola; fomos nós que criamos a CLT, para proteger o elo mais fraco do sistema capitalista: os trabalhadores.
Companheiros trabalhistas, existe Petrobrás a serviço da geração de emprego e do desenvolvimento tecnológico e científico – e não como serviçal dos interesses dos acionistas privados –, CIEPs para cuidar das nossas crianças e jovens por todo o Brasil, e desenvolvimento da indústria nacional – em oposição a primarização da economia brasileira – sob a égide do novo teto de gastos? Existe CLT protegendo os trabalhadores brasileiros com a PL dos Apps do Governo Lula que, em meio à discussão muito qualificada do Movimento VAT pelo fim da escala 6×1 e pela redução da jornada de trabalho, prevê jornada de até 12 horas diárias e contempla unicamente os interesses empresariais?
Não será hora de refundarmos uma prática verdadeiramente trabalhista e nacionalista? Sucumbirmo-nos ao social-liberalismo petista – que cada vez menos é “social” – é a trajetória que deverá ser trilhada pelos trabalhistas?
Creio que não.
“Todo trabalhista consegue perceber esse chamado da história. Estaremos à altura de nossa missão?”
Daniel Albuquerque
“Caímos no conto do ex-operário. No governo, mostrou ser apenas a continuidade de tudo aquilo que o nosso povo queria mudar.”
Leonel Brizola
“A burguesia deseja um homem de direta que fale a linguagem da esquerda, solução que mais lhe agrada, porquanto na linha da conciliação, do que a repressão brutal.”
Moniz Bandeira
“Não entram na minha lista de governos progressistas os governos Lula e Dilma. Ambos são tipicamente neoliberais. Ambos são prosseguimentos do governo FHC.”
Vânia Bambirra
“O PT é a esquerda que a direita gosta”
Darcy Ribeiro
Construir o socialismo revolucionário e o trabalhismo brasileiro é fundamental para a construção de um país soberano e do povo!