Christian Velloso Kuhn – Economista, professor e consultor do Instituto PROFECOM. Doutor em Economia do Desenvolvimento pela UFRGS. Presidente dos Núcleos de Base Nacional de Economia e Brava Gente Gaúcha do PDT do RS.
Desde as mudanças recentes na legislação eleitoral (Emenda Constitucional nº 97, de 2017), com a instituição das cláusulas de barreira, os partidos políticos brasileiros precisam cumprir um limite mínimo de percentagem de votos e número de deputados federais eleitos nas eleições proporcionais para a Câmara Federal. Para tanto, como estratégia de sobrevivência, alguns partidos (a maioria pequenos) vêm se associando via federações.
Tal estratégia proporcionou que três federações alcançassem o limite definido nas eleições passadas (2,0% dos votos válidos totais ou 11 deputados federais), a dizer: a) PT, PC do B e PV; b) PSDB e Cidadania e c) PSOL e REDE. Desses, apenas PT, PSOL e PSDB atingiram sem a necessidade de contar com os demais partidos federados. Além dos citados, os outros partidos que atingiram a cláusula de barreira foram MDB, PDT, PL, Podemos, PP, PSB, PSD, Republicanos e União.
A despeito do PDT ter conseguido atingir com sobra a meta (3,5%), caiu em relação ao resultado obtido em 2018 (5,2%), uma diferença de 1,7 pontos percentuais. Pensando que os limites para as próximas eleições (2026 e 2030) são de, respectivamente, 2,5% e 3,0%, o PDT corre risco de não cumprir a cláusula de barreira nos próximos seis anos caso registre nova queda de desempenho e/ou continue sem participar de alguma federação. Essa última possibilidade vem sendo aventada, primeiramente com o PSB (com mais afinidade ideológica) e depois até mesmo com o PSDB (mais pragmática).
Portanto, diante dos grandes desafios que o PDT passará nas próximas eleições proporcionais de 2026 e 2030, crê-se imprescindível que a Executiva Nacional do partido elabore uma espécie de planejamento estratégico para os próximos oito anos (o que sugiro chamar de PDT 2030), com definições de valores, missão, visão, objetivos estratégicos e um plano de ações robusto que coloque em prática essas diretrizes, visando o atingimento dos limites impostos pela cláusula de barreira e outras metas que o partido julgar importante que sejam atendidas nesse período.
No que tange aos valores do PDT, podemos tanto considerar aqueles defendidos por nossos grandes nomes da história do trabalhismo (Vargas, Pasqualini, Jango, Brizola, Darcy e outros), como trabalho, desenvolvimento, igualdade, soberania nacional, organização, espírito público, dentre outros. Com relação à missão, devemos manter a ideologia trabalhista viva e orgânica, atualizada no contexto em que estivermos vivendo e comprovando a sua viabilidade como norteadora para a resolução dos principais problemas porque passam nosso povo, principalmente os mais desfavorecidos.
Quanto à visão, é salutar que definamos o cumprimento das cláusulas de barreira até 2030, com metas mínimas de votos válidos e número de deputados federais eleitos e distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da federação (devem ser devidamente mapeadas aquelas com maior
potencial). No que se refere aos objetivos estratégicos, entende-se que é primordial para o PDT: a) Investir na formação política e de novas lideranças; b) Fomentar os movimentos e núcleos de base, de modo a garantir representação em todos os estados e municípios; c) Incentivar os pré-candidatos a eleições proporcionais e majoritárias à criação de seus próprios núcleos de base; d) Fortalecer e ativar a Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (FLB-AP) em todos os estados; e) Pregar a união do partido e à tolerância de diferentes correntes de pensamento que compõem a ideologia trabalhista; f) Promover o Centro de Formação de Gestores Trabalhistas (CFGT), estruturando-o em cada estado; g) Perseguir uma meta quantitativa de filiados ao PDT, investindo na manutenção e prospecção de novos pedetistas e na atualização dos nossos cadastros; h) Aprimorar a comunicação interna da Executiva Nacional com os diretórios estaduais e municipais, bem como das três instâncias com seus filiados, de modo a assegurar maior participação e transparência nas decisões; i) Revolucionar a cultura organizacional do partido, trazendo para a atualidade a sua gestão; j) Aperfeiçoar a organização interna e dos processos (filiação, eleições, etc.); k) Definir se continuaremos sozinhos ou formaremos uma federação, e nesse caso, com que partidos. Finalmente, as ações devem procurar pôr em prática esses objetivos e buscar seu atingimento no prazo.
É claro que todos esses componentes desse plano (missão, valores, visão, objetivos, etc.) são passíveis de discussão. Sugere-se que, primeiramente, a Executiva Nacional analise essa proposta e depois a submeta junto aos Diretórios Estaduais e Municipais, dando oportunidade para os seus filiados acompanharem e participarem das discussões. Todavia, esse plano só terá êxito se a Executiva Nacional priorizá-lo e selecionar as pessoas e órgãos mais competentes para serem responsáveis pela sua condução. Precisará de orçamento e de demais recursos. É preciso que se conscientize de que o que fez o PDT chegar até aqui não será suficiente para o que é necessário ser feito para o partido sobreviver até 2030. É hora de substituirmos o “sempre foi assim” por “o que é necessário nesse momento”. Temos um legado a ser levado adiante, e não podemos arriscar perder um trabalho de quase um século iniciado na Revolução de 1930 com Getúlio Vargas. Nenhum de nossos antecessores era nostálgico, todos eram grandes visionários. Devemos nos inspirar neles, e fazer o que nunca foi feito, ousar, inovar, como eles fizeram no passado. Precisamos sair da inércia e planejar o que queremos ser no futuro, qual tamanho teremos e qual papel cumpriremos na sociedade. Não podemos arriscar ver o trabalhismo sucumbir e o PDT ser extinto. Não é o que nossos antecessores esperariam de nós. Honremos nosso passado e façamos o que é imprescindível para o nosso futuro.
Investir na formação e na construção de células trabalhistas é fundamental para combater o fisiologismo eleitoreiro!