Lucas dos Santos Ferreira – Dirigente Municipal do PDT – Florianópolis. Graduado em Geografia pela UDESC, Mestre em Geografia Humana pela USP e Doutor em Geografia pela UFSC
O século XX é marcado pela consolidação de dinâmicas econômicas baseadas no planejamento integrado de estruturas estatais e empresas privadas altamente agregadoras de valor, como nos casos de países como Brasil, China, Japão e os Tigres Asiáticos. Isso ocorreu em razão da presença de alianças de classes nacionalistas e de pressões geopolíticas exercidas pela URSS no contexto da Guerra Fria, que confinaram a doutrina do laissez faire ao campo das ideias e reduziram as disparidades da chamada divisão internacional do trabalho.
A partir da década de 1970, sob a égide dos governos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, na Inglaterra e nos Estados Unidos respectivamente, visando sustentar o desigual establishment internacional que se rompia, o neoliberalismo foi imposto na periferia mundial pelo caminho de intervenções virulentas, a exemplo da Operação Condor que instituiu ditaduras na América Latina e de movimentos congêneres na África e no Oriente Médio. Paradoxalmente, o modelo que apregoava a liberdade econômica (privatizações, livre-comércio, precarizações, etc.) restringia liberdades democráticas, tal qual destacou a jornalista canadense Naomi Klein (A doutrina do choque).
Com a insustentabilidade política e moral do mantenimento de ditaduras, tornou-se necessária a constituição de ideias para desafiar a presença de Marx e Keynes com seus postulados centrados na defesa do desenvolvimento das forças produtivas e seguir com o bloqueio da periferia do mundo, fazendo emergir modelos explicados centrados em variáveis extraeconômicas que com o avançar da história passaram a hegemonizar os embates públicos, servindo de contraponto ao fortalecido campo político que tangencia o fascismo, que tem como um de seus expoentes o braço do Partido Republicano dos Estados Unidos denominado de Tea Party. Fundações de empresas como a Ford sustentaram este movimento e rapidamente se constituíram verdadeiras redes mundiais de Think Tanks
profissionalizadas em manobras de algorítimos na sociedade do Big Data. Eis que a Hiroshima Ideológica de que falava o filósofo Domenico Losurdo tomava proporções maiores do que se imaginava, já que as grandes pautas públicas foram modificadas e numa série de questões passaram a se apresentar dois polos neoliberais disputando entre si no lugar de uma disputa de projetos de fato antagônicos.
Hoje, enquanto pautas extraeconômicas hegemonizam debates nas redes sociais e movimentos políticos, segue a destruição nacional via tentativas de privatização de empresas rentáveis (Correios, Eletrobras, etc.), elevações das taxas de juros, manutenção de alto desemprego, fragilização do serviço público e derretimento do poder de consumo da população. Mais do que nunca precisamos retomar convergências e lutar para evitar um Fim da História como o descrito pelo cientista político Francis Fukuyama.