Leo Lupi – jornalista e vice-presidente da FLB-AP (Rio de Janeiro).
O sucesso do filme “Ainda Estou Aqui” – coroado pela premiação de Fernanda Torres como melhor atriz no Globo de Ouro – é uma vitória da luta pela memória e pela verdade de todas as vítimas da ditadura militar no Brasil. Mas o filme não é apenas uma arma poderosa contra o negacionismo e revisionismo histórico; é também um alerta sobre o nosso presente, em uma época em que a sanha golpista e autoritária se mostra viva na política e na sociedade.
Se nos últimos tempos estivemos imersos em notícias sobre a descoberta do planejamento de um golpe pela alta cúpula bolsonarista e da lembrança do fatídico 8 de janeiro, “Ainda Estou Aqui” surge como um farol no debate público brasileiro. A enorme repercussão do longa-metragem, tanto pelo sucesso de bilheteria quanto pelo prestígio conquistado internacionalmente, cumpre um papel pedagógico de mostrar à nossa população, em especial às novas gerações, o quão terrível foi a ditadura no país. O filme mostra que o golpe foi contra o trabalhismo: Rubens Paiva era deputado federal pelo PTB e apoiador do governo João Goulart e suas reformas de base. O regime militar teve a missão de perseguir e reprimir qualquer pensamento de combate às desigualdades e defesa da classe trabalhadora.
É preciso que as pessoas saibam – e não existe melhor forma de informar do que através da arte – o que é, de fato, uma ditadura. Por meio da emoção e de atuações memoráveis, o filme se torna uma valiosa arma no combate ao negacionismo histórico. Isso é essencial em tempos sombrios não apenas no Brasil, mas no mundo. Não muito longe daqui, Milei acaba de anunciar o fechamento de um dos maiores museus sobre a ditadura argentina.O passado ainda está em disputa.E é preciso lembrar que, enquanto vários países latino-americanos puniram e investigaram os crimes cometidos em suas ditaduras, a transição no Brasil colocou tudo debaixo do tapete. O livro e o filme só foram possíveis graças à Comissão da Verdade instaurada no governo Dilma, que esclareceu, depois de décadas, o desaparecimento e a morte de Rubens Paiva.
Com seu êxito inquestionável no Brasil e no mundo, “Ainda Estou Aqui” é como uma luz na escuridão da era de desinformação e radicalismo que vivemos. Eles (os golpistas e autoritários) ainda estão aqui, e com poder e capacidade de mobilização. O filme surge em momento extremamente oportuno e necessário. A disputa de narrativas sobre o nosso passado (e o presente!) segue a todo vapor – e será fundamental para decidirmos que tipo de futuro teremos.