Luís Otávio Vieira Feltrin – Secretário de Formação Política da Juventude Socialista do PDT de Santa Catarina.
Desde que assumi a tarefa de secretário de formação política da Juventude Socialista do PDT de Santa Catarina, venho refletindo sobre a pergunta que trago no título deste texto: como se forma um trabalhista? Quais textos e obras deve ler? Quais autores deve buscar? Por quais experiências deve passar? Quais devem ser suas referências políticas?
Para o trabalhista veterano, essas são respostas fáceis de encontrar. No entanto, nossa tarefa não é formar o veterano, o experiente; esse já foi “mordido” pelo trabalhismo, e nossa doutrina já corre em sua corrente sanguínea. Nossa missão é formar uma massa de jovens que serão, em um futuro próximo, a vanguarda iracunda capaz de transformar nosso país, motivados por um sentimento e uma certeza decisiva, orgânica, que apenas uma formação política obstinada consegue produzir.
Esse caminho seria muito mais fácil se não tivéssemos que enfrentar a ideologia colonizadora que tão cedo se apodera da cabeça da nossa juventude, impregnando-se como um parasita, transmissora de um sintoma inconfundível de cegueira, produzido pela alienação mais vil, mais rasteira e, infelizmente, extremamente eficaz para cumprir o fim a que se destina. Não importa se o discurso parece “de direita” ou “de esquerda”, a ideologia imperialista é facilmente diagnosticada e logo mostra suas garras. Esse tem sido, ultimamente, nosso principal obstáculo.
Nossos jovens encontram-se seduzidos por uma propaganda que chega pela televisão, pelo celular, pelo computador, pelo rádio, enfim, por todos os meios de comunicação dominantes no Brasil. Uma propaganda que adora o estrangeiro, o que vem de fora: a palavra em inglês, o termo norte-americano, a ciência social parisiense, a diva pop dos Estados Unidos, entre tantos outros instrumentos de colonização desse processo civilizatório sem fim. A propaganda cria um padrão de aceitação pelo grupo e de validação social, em que o jovem só se sente inserido e acolhido quando reproduz esse personagem, mesmo que esse acolhimento seja meramente virtual, com curtidas e compartilhamentos. É difícil enfrentar esse padrão. São tantos dólares (que não temos) investidos na criação desse personagem, que nossa única arma é a insistência.
Feito esse breve diagnóstico, o que nos salta aos olhos é que, antes de formar nossos jovens como trabalhistas, precisamos ensiná-los a amar o Brasil. Todo dia nossa juventude é ensinada a escantear a sua pátria. Amar o Brasil virou “cringe”. E, para formar um trabalhista, essa é uma etapa incontornável.
Porém, por mais que o imperialismo tente, todos os dias, fazer nosso povo desejar viver como norte-americanos, no cotidiano, na vivência real e material dos nossos jovens, eles jamais conseguirão deixar de viver como brasileiros. Vida difícil, com obstáculos cada vez maiores, que se repetem ano após ano, criando uma conexão com todos os nossos antepassados e com nossa história. Esse deve ser o ponto de partida da formação de um trabalhista, pois nossa história, contada por nós mesmos, é o maior material que podemos oferecer para que nossos jovens despertem o amor pelo nosso país e criem raízes profundas na nossa terra.
Quando entendemos como nosso povo foi formado, porque somos tão diferentes, tão singulares, e quando compreendemos por que nossa mestiçagem carrega tanta dor e tanta beleza, conseguimos perceber que o martírio que vivemos hoje não é só nosso, ele repousa também sobre as costas de inúmeros brasileiros ao longo da nossa história. Sentimos identificação, empatia, conseguimos nos colocar no lugar de cada brasileiro que sofreu, apanhou e morreu para construir nossa nação com as próprias mãos. Esse sentimento é extremamente poderoso e fertiliza o solo para que nasça a semente trabalhista, a flor do deserto, com raízes tão profundas que nem a seca, nem a enchente, é capaz de destruir. “O Povo Brasileiro”, “O Processo Civilizatório”, “O Brasil como Problema” e “O Dilema da América Latina”, de Darcy Ribeiro, além de “As Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano, são clássicos que, embora às vezes compreendidos como clichês, possuem uma forte tendência, para o leitor de primeira viagem, de despertar esse sentimento de identificação com nossa terra. Outra obra muito potente é “Folclore, Socialismo no Povo”, de Gilberto Felisberto Vasconcellos.
Outro requisito indispensável para formar um trabalhista é o entendimento inequívoco do método marxista, o materialismo histórico-dialético. Somente ele pode iluminar o pensamento trabalhista para entender as razões de nosso subdesenvolvimento, de nossa espoliação e, consequentemente, de nosso sofrimento. Ser marxista não é representar um personagem, não se trata de aderir a um padrão de comportamento ou buscar validação moral. Trata-se de ser metódico, científico e, por esse caminho, ter convicção e clareza da tarefa a ser cumprida: a tarefa do trabalhista, que é a da subversão da ordem e da revolução brasileira.
Quando o método marxista é incorporado na formação política, a convicção da necessidade da revolução é despertada, sem “costear o alambrado”. Não há método mais eficaz para criar essa convicção, pois o ódio gerado pelo estudo da história do nosso povo se soma ao ódio de classe, ao ódio de quem se vê explorado, aviltado, violentado em todos os âmbitos de sua vida. Um trabalhista não sobrevive sem essa indignação.
A leitura de “A Ideologia Alemã” e “Os 18 de Brumário de Luís Bonaparte”, de Marx e Engels, “Estado e Revolução”, de Lenin, “A Teoria da Dependência”, de Theotonio dos Santos, “O Capitalismo Dependente Latino-Americano”, de Vânia Bambirra, “O Processo Civilizatório” e “As Américas e a Civilização”, de Darcy Ribeiro, são obras que podem inaugurar esse pensamento. Logicamente, há muitas outras obras que também cumprem esse papel, mas aqui trago o testemunho das que foram de grande importância na formação do meu pensamento.
Em uma terceira etapa, entre tantas outras que surgirão em uma formação continuada e inesgotável, o trabalhista deve buscar, incansavelmente e com obsessão, as entrevistas e palestras de Leonel Brizola, além de todo o material disponível de suas falas, histórias e feitos. O consumo sedento desses materiais do grande líder é uma obrigação na formação do trabalhista, um vício para o qual não se deve buscar tratamento. Da mesma forma, a leitura da biografia de Getúlio Vargas, assim como os textos e discursos que enaltecem sua liderança, também são materiais obrigatórios.
Nesse momento, somos contagiados por uma mística insuperável, potente, avassaladora, que nos faz criar a conexão decisiva para apostar até o nosso último suspiro na semente trabalhista. Foram eles que incorporaram as duas etapas anteriores e as traduziram de forma que o povo brasileiro pudesse compreendê-las com a profundidade de sua alma e a sabedoria de seu pensamento.
Acredito que essas sejam as bases para iniciar a construção de um trabalhista. Não necessariamente nessa ordem, mas jamais se deve contorná-las. Todo secretário de formação política trabalhista deve ter em mente que não pode exercer sua tarefa sem passar por essas bases fundamentais da nossa corrente.
Nossa tarefa de transmitir o pensamento que guiará a vanguarda revolucionária trabalhista é difícil; os obstáculos se somam, nossos inimigos cacarejam desesperados, mas nossa convicção e nossa decisão são inabaláveis, pois somos plantas do deserto.
Saudações trabalhistas.