A estratégia socialista e a tática trabalhista: uma defesa marxista

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Enzo Menucci – militante da Juventude Socialista, secretario de Gênero, Diversidade e Raça da JS Carioca e doutorando em Estudos Estratégicos pela UFF

Esta tribuna é fundamental para a reorganização e reorientação a partir dos novos arranjos nacionais e internacionais, leia-se: o novo momentum da atual crise do capitalismo. É uma oportunidade mais do que feliz para o debate que muitas vezes não sai da sala de encontro, do bar ou até mesmo das nossas cabeças. Esta tribuna é fundamental para pensar onde cabemos, onde devemos estar e com quem devemos estar. Muitos dos textos aqui publicados já compreenderam o caminho que sigo neste esforço presente, e foram além na formulação de operações e planos. Mas ainda assim, julguei válida a tentativa de contribuir para a amplitude e volume do debate, independentemente, se dentro ou não do recorte temporal do congresso.

Um dos pontos que mais nos orgulhamos do trabalhismo, e acredito que nos une, é a capacidade da nossa tradição de se adaptar, de ser maleável e de achar as frestas. O sistema capitalista é fundamentado na expropriação e exploração, de tal sorte que cabe ao Estado, nas formulações marxianas mais elementares, uma simples cristalização dos interesses burgueses. Entretanto, cabe também à vanguarda, aos intelectuais etc, a construção de um bloco histórico que seja capaz de uma contra-hegemonia.

Não me estenderei, mas no Brasil, tivemos a equidistância pragmática e a política externa independente na política internacional1. Na política interna, fomos capazes de pautar, com erros e acertos, o debate desenvolvimentista e a saída autônoma pela “indução estatal”2. A pressão das forças imundas da burguesia nacional e subservientes à dependência estrutural internacional que nós trabalhistas sofremos desde Vargas, com o primeiro golpe vitorioso (1954) até o segundo (1964), só aumentou à medida em que subimos o tom e direcionamos o povo brasileiro para as reformas estruturais.

Ou seja, o golpe de 1964 foi dado contra os trabalhistas, SIM! Mas porque os trabalhistas, à imagem de Jango (dos últimos momentos) e Brizola se forjavam como grandes lideranças trabalhistas-reformistas-socialistas.

Por isso, proponho o emprego do trabalhismo num caminho paralelo ao de ideologia e doutrina própria. Proponho-o como tática, muito mais do que estratégia3. Proponho o trabalhismo como força política, fenômeno histórico e arranjos de conjuntura para a estratégia socialista brasileira, de forma a entender o Estado-nacional como ponto de encontro da luta socialista, vetor dos interesses nacionais-populares.

Naturalmente, esta é uma proposta, que filha das circunstâncias e das condicionantes históricas se constrói. Isto é, de maneira dialética, os impulsos partidários à direita condicionam os refluxos da esquerda e vice-versa. Entender o trabalhismo como fenômeno, arranjo e tática é também não estabelecer uma essência própria e independente, sem qualquer intersecção. De tal modo que, o trabalhismo não é, mas deve ser4.

Assim, o trabalhismo não deve ser alternativa ao marxismo, este aqui entendido como doutrina e/ou qualquer coisa que o valha, mas sim, condutor deste. Fugir do materialismo histórico-dialético como compreensão incontornável das contradições do modo de produção capitalista não é dar características brasileiras ao socialismo, mas se pautar em devaneios puramente utópicos. É por tomar o trabalhismo como fenômeno que cabe o pragmatismo operacional e o socialismo como estratégia. Se outrora nos construímos pelo positivismo e pela Doutrina Social da Igreja, por que não ser esse o novo arranjo?

Desta forma, se como Partido, estamos em contraposição do que quer que seja o “socialismo real” e as experiências socialistas que tomaram de assalto o Estado para que servisse ao povo, por que a Juventude Socialista evoca Che Guevara no seu grito de guerra? Por que nos organizamos em núcleos de base? Por que seguimos o centralismo democrático? Por que Luís Carlos Prestes se tornou presidente de honra sem nunca abandonar a ciência do proletariado? O que eram as perdas internacionais, senão a Teoria Marxista da Dependência?

Mas por que devemos definir essas questões? Para fechar as portas para os que não se autoproclamam socialistas? Jamais! Não é esta a nossa tática, não deve e nem pode ser. Mas é fechar as portas para essas correntes neoliberalóides e fascistas que se infiltram ora sob o manto da educação, ora do manto nacionalista e patriótico. Que procurem as suas turmas em outro lugar, pois a nossa rosa é vermelha.

Atenção!

Não proponho aqui o abandono do pragmatismo, muito pelo contrário. Não proponho o abandono de uma análise conjuntural e de perspectivas que deixem de sujar as mãos e de se aliar com o centro e a centro-direita em momentos que for preciso. É necessário sobreviver e passar ou frear qualquer coisa contra os trabalhadores que estiver ao alcance, conforme a correlação de forças do momento. No entanto, também é preciso sonhar e construir.

De tal maneira que, tampouco proponho aqui o alinhamento automático com os partidos comunistas e socialistas no Brasil, mas ao menos uma aproximação deve ser considerada. À luz da Frente de Mobilização Popular, que, sem abandonar a sobrevivência, possamos idealizar e materializar juntos. Acredito que o “juntos” compreende onde quero chegar. É não abandonar nenhuma das frentes e fazer o que tem que ser feito agora sem ignorar o que pode ser fato amanhã.

As questões legais e eleitorais em que se encontram o Partido já foram bem trabalhadas nos textos anteriores, sobretudo a questão da cláusula de barreira e as ventiladas federações. Quero ir além disso. Quais as lideranças realmente populares que temos de expressão no Brasil e que representam ou podem representar a esquerda? Quantos dedos da mão são precisos para contar? Agora conte as lideranças à direita, os liberais, os sociais-liberais e os fascistas. Precisou tomar nota, certo?!

Portanto, este é um elemento central da minha preocupação, estamos cada mais vez recaindo sob alianças com à direita (para ser bem eufemista) e isso não pode continuar. Não por bater o pé no chão por honra ou qualquer coisa, mas porque com a direita não é possível render frutos duradouros. Com eles não se constrói raízes, pois, no fundo, o fascismo nada mais é do que liberais acuados.

A aliança no segundo turno com Lula para a eleição nacional foi decisão acertada, embora demorada. Mas é pertinente o questionamento de que: até onde a tática do mal menor freia os fascistas?

Este post tem um comentário

  1. Rafael Neves

    Trabalhismo sem marxismo é oportunismo! Viva o socialismo revolucionário!

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