Neudes Carvalho – vice-presidente do PDT em SP, Pesquisadora sobre o Futuro do Trabalho, Articuladora do Movimento Negro
Tecnologias sociais têm sido empregadas com o objetivo principal de produzir a inclusão social de trabalhadoras e trabalhadores das classes mais vulneráveis. O conceito de TC começou a surgir no Brasil a partir da década de 80 e cabe destacar que sua construção caminha intimamente relacionada com a concepção de economia solidária. Juntos, esses dois termos estruturam e viabilizam uma nova forma de gerar e distribuir renda, principalmente em cenários de vulnerabilidade socioeconômica.
Sendo assim, podemos dizer que as tecnologias sociais pretende romper com a tradicional hierarquia do capital. Hierarquia essa que centraliza os modos de produção nas mãos de poucos acionistas que se sentam em fartas mesas para distribuir entre si os lucros gerados por uma massa de trabalhadores precarizados.
E é com esse cenário de crescentes perdas de direitos e falta de estabilidade financeira que surgiu a necessidade de se buscar materialidade no real papel do trabalho no desenvolvimento social. Por esse motivo, cada vez mais trabalhadores estão se voltando para um modo de produção que gere trabalho e renda utilizando os saberes tradicionais, com baixo custo de implementação, que possam ser replicados e que solucionem os problemas sociais concretos das comunidades em que vivem.
Nesta perspectiva, as tecnologias sociais podem ser pensadas e construídas tanto para questionar a concentração dos ganhos, como para repartir o conhecimento de forma democrática entre os trabalhadores, que recuperam assim sua autonomia sobre os processos de trabalho e produção de riqueza. Afinal, toda escolha ou decisão técnica indica as relações sociais e de cultura em uma sociedade.
Não à toa afirmo que as economias solidárias, que têm como premissa básica o desenvolvimento da coletividade, desempenham um papel fundamental diante do desemprego e do aumento da fome que se intensificam nos territórios periféricos. Uma instituição/projeto focado no desenvolvimento socioeconômico de grupos sociais historicamente marginalizados, não pode somente estimular a competitividade sangrenta do grande capital, em que um CPF engole o outro CPF. Mas sim, preparar, estimular e proporcionar meios para que esses empreendedores da classe trabalhadora possam trabalhar juntos produzindo bens e serviços, e valorizando os saberes coletivos para desenvolver seus territórios e atuarem no combate ao desemprego e a fome.
Por fim, vale repetir que não há solução individual para os complexos e profundos problemas socioeconômicos que assolam a população brasileira, por isso precisamos estar a cada dia mais atentos, unidos e fortes na busca da dignidade do nosso povo.