Pelo Trabalhismo dos Estudantes

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Renzo Mascote – Graduado em Filosofia pela Universidade do Estado do Pará, Mestrando em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Representante Discente do PPGFIL/UERJ e Presidente da Juventude Socialista de Ananindeua/PA.

“…Éramos todos jovens e nos identificávamos com aquela massa anônima a percorrer as ruas de Porto Alegre, gritando Getúlio, Getúlio e empunhando faixas com toscas inscrições em favor dos sindicatos e das garantias de trabalho.”

Leonel Brizola, numa entrevista a Moniz Bandeira, Nova Iorque, em julho de 1978, falando sobre as origens de sua militância política

O fio da história do Trabalhismo brasileiro revela-nos que poucos assuntos nos são tão caros quanto a educação. Isso não se dá à toa, mas pelo aspecto prático e programático do próprio Trabalhismo enquanto caminho para o socialismo no Brasil. Muito falamos das contribuições do Trabalhismo à educação e aos estudantes, mas a história do Trabalhismo também nos ensina sobre a construção de nossa via política por parte dos estudantes. Temos, então, uma via de mão dupla, em cujo centro se encontra a educação. Como enfatizou Brizola na sede da UNE, em 1961:

“A educação é o único caminho para emancipar o homem. Desenvolvimento sem educação é criação de riquezas apenas para alguns privilegiados”.

Ora, o que isso nos diz? Que não há outro caminho que não as mentes esclarecidas na via da libertação humana das garras do capital alienante e explorador. É, pois, mediante a formação cidadã e de alta qualificação profissional que o Brasil pode germinar suas forças mais consistentes por uma revolução proporcional à grandeza de nosso povo. O que garante que as palavras de Leonel Brizola não soem como espumas ao vento, mas se apresentem trajadas justa e firmemente, está na própria prática do Trabalhismo enquanto força política no Brasil: elas se traduzem nas mais de 6000 instituições de ensino básico que se espalharam pelo Rio Grande do Sul no governo de Brizola entre 1959 e 1963, cumprindo o mote “nenhuma criança sem escola no Rio Grande do Sul”; manifestam-se na moderna arquitetura de Niemeyer, que ergueu mais de 500 unidades de Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), apelidados de Brizolões, durante o governo de Brizola no Rio de Janeiro entre 1983-1987 e 1991-1994; apresentam-se na Universidade de Brasília, a Universidade do coração de Darcy Ribeiro, cuja proposta era de completa integração de conhecimento, um laboratório de um novo Ensino Superior no Brasil mirando a transformação social; E, mais recentemente, as palavras de Brizola têm se concretizado na verdadeira revolução educacional que ocorre em Sobral, no Ceará, município que tem ocupado o 1º lugar do IDEB desde a última década.

Tais concretudes nos permitem reivindicar dignamente a liderança política por uma educação emancipadora, uma vez que podemos apontar e dizer “fizemos antes, fazemos hoje e faremos ainda muito mais”. Contudo, não é suficiente que o Trabalhismo seja apenas em prol dos estudantes, é necessário que lutemos por um Trabalhismo dos estudantes, isto é, que a nossa via política também seja pensada e debatida pelos próprios estudantes como agentes políticos: seja nos grêmios estudantis dos secundaristas, seja nos diretórios e centros acadêmicos das Universidades, além das representações de pós-graduações.

Muitos são os esforços que a Juventude do PDT, em especial o Movimento Reinventar, têm aplicado, e com sucesso, para o viés Trabalhista ser relevante nas trincheiras pela educação brasileira ainda hoje. Devemos nos orgulhar de cada companheiro e companheira que assume a diretoria de um CA, DCE ou alguma diretoria da UNE, ou ANPG. Entretanto, urge que reafirmemos que podemos muito mais. E não apenas nesses espaços, mas também nas câmaras municipais, nas assembleias legislativas e, inclusive, no Congresso Nacional. É desafio atual que se erga um olhar de confiança para os estudantes trabalhistas enquanto agentes políticos altamente qualificados, e não apenas em quesito acadêmico, mas na própria articulação política. São muitos os desafios a serem enfrentados: a revogação do Novo Ensino Médio (e proposição de uma reformulação justa), a defesa pelo Ensino Básico Integral, a retomada do investimento sério (segundo o padrão da OCDE) nas IES, a valorização dos pesquisadores dos Programas de Pós-Graduação (que não possuem nenhum direito trabalhista, embora saibamos que suas pesquisas são o seu trabalho). Dada a importância e urgência de tais tópicos, é evidente que deve haver uma movimentação geral de todos os trabalhistas, mas faz muita falta o protagonismo estudantil nas representações políticas.

Nesse quesito, devemos dar um passo de volta e checar a trajetória do próprio Brizola, que não era apenas obstinado pelos estudos (passou em primeiro lugar no Instituto Ginasial da Igreja Metodista e depois em primeiro lugar no curso de Técnico Rural), mas sempre se destacou na liderança estudantil. Desde os 18 anos, era funcionário público da prefeitura de Porto Alegre, trabalhando como jardineiro, sem deixar de estudar. Em 1943, fundou o grêmio estudantil do Colégio Júlio de Castilhos. Desde o primeiro ano da faculdade de engenharia, em 1945, já lhe chamava a atenção a mobilização política. Brizola, como muitas figuras importantes do PDT ainda hoje, cresceu na Juventude do partido. Tornou-se presidente da Ala Moça do PTB, de Getúlio Vargas, e já em 1947, aos 24 anos, foi eleito para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

E então chegamos ao ponto que, hoje, quero enfatizar: o estreante Brizola, jovem deputado de formação orgânica da juventude trabalhista, sustenta na tribuna seu primeiro discurso como legislador no dia 12 de março de 1947 – em defesa dos estudantes de segundo grau que enfrentavam o problema da escassez de vagas em Porto Alegre. A proposta de Brizola na Constituinte foi votada e aprovada naquela noite, para a alegria dos muitos estudantes que ocupavam as galerias da Assembleia. Não há melhor exemplo a seguirmos do que este. Mas teríamos visto o fenômeno político Leonel Brizola em toda a sua grandeza não fosse o apoio de Getúlio?

Nesse sentido, é importante que na ocasião do 6º Congresso Nacional do Partido Democrático Trabalhista defendamos não apenas as contribuições trabalhistas aos estudantes brasileiros, enfatizando nossas pautas históricas, mas que repensemos e valorizemos, também, a figura do estudante como contribuinte nas políticas trabalhistas. Para que, assim, vejamos florescer tantos outros Brizolas no presente e futuro do Trabalhismo brasileiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • MANESCHY, Osvaldo. Com a palavra Leonel Brizola. BAW Editoração Eletrônica, 1994.
  • TENTARDINI, Cleber D. O Menino que se tornou Brizola. Porto Alegre: Editora Rígel, 2013.

Este post tem 3 comentários

  1. Mariana Lessa

    Essencial demais essa analise!

  2. Pietro Almeida

    Perfeito! Muito importante para pensar em formas de mudar a conjuntura atual.

  3. Pietro Almeida

    Perfeito! Muito importante para melhor elaborar formas de mudar a conjuntura atual.

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