TRABALHISMO E HEGEMONIA: A NOSSA ESTRATÉGIA PARA A VITÓRIA!

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Daniel Albuquerque – representante nacional do Núcleo de Base Ação Popular Revolucionária (APR)

“Se esse rumo assim foi feito, sem aprumo e sem destino, 
Saio fora desse leito, desafio e desafino,
Mudo a sorte do meu canto, mudo o Norte dessa estrada.”
A estrada e o violeiro, Sidney Miller e Nara Leão.

Introdução:

Passam as eras, alternam-se superficialmente os inimigos, mas, pela força evocada em sua memória, um espectro continua a rondar o Brasil. O Trabalhismo, legítimo representante do socialismo brasileiro, se mostra sempre disposto a entrar na batalha pelo destino de nossa nação e povo. Todo trabalhista consegue perceber esse chamado da história. Estaremos à altura de nossa missão?

Os rumos de nosso país, em estado tão decrépito, aviltado e saqueado pelos interesses de uma classe dominante mesquinha e vendilhona e pela cobiça internacional, nos demonstram diariamente que está para cair de podre todo o consenso econômico neoliberal, sustentáculo intelectual da classe dominante utilizado para legitimar o alto nível de exploração de nosso povo. O desfinanciamento da educação pública superior, a inabilidade em lidar com os extremos climáticos, são apenas alguns dos sintomas evidentes da crise do neoliberalismo. Um dado inescapável.

Toda a ordem política e econômica está por um fio, e a nação clama, ainda que sem consciência, por profundas reformas que coloquem o Brasil de volta no grande jogo internacional com soberania e autonomia, e garantam bem-estar e melhores condições para nosso povo. Contudo, se desde 2016, sentindo o chamado do próprio espírito do tempo, o trabalhismo brasileiro, cultura política que, a partir de experiências concretas na história brasileira, melhor representa as soluções e respostas para tais dilemas, apresentou algum crescimento, desde 2022 o movimento trabalhista se encontra com um grave problema.

O trabalhismo brasileiro tem as respostas para o Brasil, mas para poder aplicar suas soluções, precisa chegar ao poder. Se os trabalhistas entenderam corretamente que a Nova República, em sua essência, representa uma marcha cada vez mais acelerada rumo à República Oligárquica, não fomos capazes de elaborar uma sólida estratégia capaz de nos colocar no caminho da vitória.

Pior que isso, após o “desafio” feito pela hegemonia da esquerda a partir de 2016, e com a grave derrota eleitoral em 2022, o movimento trabalhista encontrou momentos de perigosa paralisia, falta de unidade, e falta de rumo teórico e prático. Nesse sentido, o presente ensaio visa oferecer algumas soluções para o VI Congresso Nacional do PDT, e uma estratégia para o trabalhismo brasileiro recuperar seu lugar de direito, a partir da crítica aos nossos maiores equívocos e fragilidades, e encaminhamentos para resolução de tais problemas.

Não devemos ter medo de polêmicas decorrentes de tal debate, nem de contradições. A realidade se demonstra por demais contraditória, e a perfeição não existe no real, se trata apenas de uma ideia, não é nada mais que um conceito. Exatamente por isso, começaremos uma detalhada análise, feita de forma crítica, às claras, sem sofismas, sobre o momento vivido pelo movimento trabalhista, e em especial, pelo representante legítimo desta tradição, o Partido Democrático Trabalhista.

2: Sobre a crítica e a rejeição a uma visão idealista da história:

Para aprofundarmos nossas críticas, se faz necessário que façamos uma ponderação inicial. É importante elucidar sobre o equívoco de se ter um visão da história voltada para grandes personagens, enquanto se ignora as estruturas sociais, classes sociais e forças que disputam o poder político em determinada sociedade em determinada era ou em determinado contexto.

Ou seja, é importante salientar que para fins de análise crítica, rejeitamos um entendimento idealista sobre a história e sobre a filosofia da história. Além disso, antes de uma detalhada análise crítica, é importante reiterarmos nosso compromisso com o movimento trabalhista. A crítica, quando feita de forma universalista e em abstrato e de má-fé, se transforma em um mero mecanismo do divisionismo, porém quando bem direcionada, é a chave para solução de problemas e equívocos e pode ser uma das ferramentas que irá nos levar à redenção.

3: Por que nosso último desafio pelo poder fracassou?

Em toda essa trajetória citada anteriormente, de 2016 até 2022, contudo, já estavam presentes grandes problemas que posteriormente se mostraram cruciais para a derrocada trabalhista no primeiro turno da última eleição presidencial. Problemas estes que foram ficando bem perceptíveis no espaço de tempo compreende os anos de 2018 e 2022.

A não existência de um ecossistema de mídias trabalhistas forte o suficiente para sustentar nossa visão de mundo e opiniões nos tornava alvos fáceis para toda a sorte de distorções, polêmicas inúteis e factoides, sem termos como nos expressar ou reagir da maneira apropriada. Além disso, impossibilitou uma disputa real pela hegemonia de visão de mundo da sociedade. Com isso, foi impossível expressar o ponto de vista trabalhista da história e cativar a classe trabalhadora.

A falta de formação política, de alguns quadros partidários que desonram nossa tradição e história em votações absurdas, bem como de “simpatizantes” não-filiados, que humilham nosso legado a bel-prazer na sociedade do espetáculo, e escarram na história de quem construiu o partido, minava nossa imagem perante a opinião pública. Se faz mister pontuar também que, a falta de formação política, de certa forma, também foi um fator que atrapalhou a unidade interna do movimento trabalhista.

Para além dos problemas anteriormente citados, outras questões, como, por exemplo, a falta de organicidade e organização, sequelas do fisiologismo, impediram que, em uma disputa extremamente assimétrica pelo poder, pudéssemos ter mínimas chances de êxito.

4: Considerações aprofundadas sobre tais problemas:

A questão da mídia e o movimento trabalhista:

O Partido Democrático Trabalhista é, considerando história e estrutura, o segundo maior partido da esquerda brasileira no pós-democratização. Tanto em sua base quanto em sua direção existe um número infindável de jornalistas, marqueteiros, propagandistas, agitadores, intelectuais orgânicos, artistas, dentre outras profissões e ofícios que de alguma forma envolvam o setor da mídia. Além disso, o trabalhismo brasileiro, por ser uma cultura-política e por ter participado na criação de nossa identidade nacional, tem uma rica história quando a questão é comunicação entre o partido e nossas lideranças políticas e as massas.

Exatamente por isso, é incompreensível que as mídias relacionadas ao PDT e ao trabalhismo tenham atuado tão aquém do que mereciam e poderiam ser de 2016 até os dias atuais. É, também, lastimável e impossível de não ser mencionado o fato de que isso se deu não por falta de material humano, visto que desde 2016 foram fundados, de forma independente, inúmeros grupos de mídia trabalhista, revistas, e projetos do gênero.

Em suma, falhamos em nos atentar e fortalecer de forma séria e planejada todos os mecanismos indispensáveis para o fortalecimento e manutenção de nossa cultura política, que visam disputar a opinião pública e a hegemonia do pensamento da sociedade brasileira, em geral, e não apenas como finalidade de marketing político eleitoral.

É mais uma das sequelas do eleitoralismo e de uma prática fisiológica, ao qual o Partido Democrático Trabalhista recorreu, para se manter vivo em determinado período de necessidade. Mais uma das correntes que o partido tem que romper se quiser disputar realmente o poder com seriedade a médio e longo prazo. Por mais que o partido e a fundação Leonel Brizola/Alberto Pasqualini tenham tomado algumas medidas louváveis, a execução estadual e municipal por norma se demonstrou insuficiente em muitas localidades e em muitas ocasiões.

A questão da mídia se mostrou central tanto em 2018 quanto em 2022. Foi exatamente por esse fato que, por mais que o movimento trabalhista quisesse dar explicações importantes e sérias sobre o processo eleitoral de 2018, a tese de que “Ciro foi para Paris e ajudou Bolsonaro”, por exemplo, se tornou senso comum, sem que conseguíssemos reparar ou corrigir uma série de tristes injustiças que foram cometidas conosco e nossa imagem no processo.

A falta de formação política, organicidade e organização:

A falta de formação política foi um dos maiores e mais graves equívocos demonstrados em tal período. Isso acabou refletindo tanto nas atitudes de alguns quadros partidários envolvidos em votações absurdas, bem como pela prática e argumentações bizarras de “simpatizantes” não-filiados que exibiam posturas abertamente contra os princípios de nossa cultura política.

Por mais que o Partido Democrático Trabalhista, a Fundação Leonel Brizola, e a Juventude Socialista tenham tentado estabelecer projetos distintos de formação política, e que estes tenham obtido relativo grau de sucesso, pela não existência de um forte aparato reprodutor para impulsionar a cultura política trabalhista, tais iniciativas ficaram restritas a um grupo de pessoas, sobretudo jovens da Juventude Socialista e alguns outros movimentos partidários e núcleos de base.

Exatamente por isso, tais iniciativas não foram fortes o suficiente para promover a assimilação dos “ciristas” nem tampouco os cativar para descobrir, na totalidade, o ponto de vista trabalhista da história, ficando estes, quando muito, restritos a uma visão meramente “nacional desenvolvimentista” em termos econômicos.

Vânia Bambirra em seu texto de título “Formação política”, demonstra que a questão nunca foi, e isso continua válido até os dias atuais, apenas ter um número maior de militantes, em termos de quantidade, mas sim de ter, também, muita qualidade na formação de nossos quadros. Isso é um fator central para fazermos nossas reflexões, pois, de um ponto de vista estratégico, embora o PDT seja um partido de tamanho razoável em termos práticos, sempre estivemos em uma situação de “luta política assimétrica”, ou “luta política do pequeno contra o grande”, seja na luta contra a esquerda liberal pela hegemonia da esquerda, seja no cenário nacional da briga pelo poder político. Sobre isso, Vania, nos explicou em 2005, algo que já deveríamos ter aprendido:

Ora, um partido não se afirma apenas porque tenha um grande líder, mas pela solidez de sua proposta, sua coerência e pela sua organização. Quem organiza são os quadros; se não estão preparados, sua “organização” é inepta ou personalista-oportunista. Em sua época, Lenin dizia preferir dez militantes inteligentes do que cem bobos (a citação é do livro Que fazer?). As condições de luta eram adversas na Rússia Czarista e o partido era clandestino. Porém, além de uma proposta imediata para organização partidária eficaz, o que ele queria dizer era que dez homens bem preparados mobilizam milhares enquanto cem despreparados não mobilizam nada.”

Formação Política, escrito por Vânia Bambirra no ano de 2005.

A crença por algumas lideranças de que a única forma de atuação partidária deva se dar nas vias estritamente parlamentares e o ponto de vista que enxerga a política eleitoral como um fim em si causaram impactos negativos na práxis do movimento trabalhista. As sequelas do fisiologismo, bem como interesses regionais também impediram a sistematização de uma linha ideológica partidária coesa no sentido nacional, algo que era um problema já no período de 2018 até 2022, e continua sendo um problema custoso para o Partido Democrático Trabalhista no presente momento, minando nossa organicidade e organização.

A recorrente prática de filiação de caciques locais e seus quadros e apoiadores, suprimindo lideranças orgânicas ainda em construção, visando um atalho na estratégia eleitoral local, não raro mina a coerência e alinhamento ideológico da militância em nome de um pragmatismo que afirma garantir nossa sobrevivência no presente, mas que pouco a pouco, pode matar nossa chance resistir como fio da história no futuro, deixando com isso, órfãos os nossos mortos do passado, cuja memória com tanto afinco defendemos.

Por isso, é impossível abordar o tópico formação política e não salientar que, muitas vezes, o mau exemplo de quadros e lideranças, tanto em votações, declarações ou atitudes, não se deu por falta de oportunidade de entrar em contato com a história de nossa cultura-política e práxis, mas por absoluta e deliberada recusa por parte destas pessoas que usam o PDT enquanto desprezam o trabalhismo.

Infelizmente, nosso aparato de propaganda e de formação política, quase não entraram em contato com a base não filiada que orbitou nosso partido entre 2016 e 2022. Isso é um grande erro, pois o movimento trabalhista, infelizmente, está longe de ter a maior militância do país ou de nosso campo. Exatamente por isso, pelo caráter assimétrico da luta política que trava, tem que ser sagaz nas alianças que faz, e precisa ter um grau elevado de organização, qualificação e mobilização em sua militância. Talvez essa seja uma de nossas maiores derrotas coletivas enquanto movimento. Poderíamos ter capitalizado melhor, em termos de cativar e formar novos militantes, o período de crescimento ocorrido de 2016 até 2022.

Sobre o desafio derrotado e a frustração:

Evidentemente, se faz necessário pontuar que não é prudente fazer um desafio pela hegemonia da esquerda nacional sem ter uma máquina de mídia e propaganda, alto nível de organização e formação dos quadros, e sem um movimento de massas que consiga sustentar tal empreitada, e esperar resultados diferentes do que uma derrota. Exatamente por isso, devemos pensar nesse ponto em autocrítica, fugindo do escapismo reacionário e imobilista de culpar os outros por nossos equívocos e nossas fraquezas.

Não é produtivo para o trabalhismo brasileiro, após fazer um desafio pela hegemonia da esquerda nacional, que culpemos nossos adversários e rivais por nossas próprias fraquezas e fragilidades. Não podemos, enquanto movimento, estar aquém de nossa missão histórica. Devemos trabalhar com seriedade, para construir as bases materiais e culturais de um Brasil trabalhista.

Os arautos do absurdo e intelectuais orgânicos da burrice que insistem em estimular esse sentimento justo, porém mal direcionado, de revolta ante a injustiça sofrida no processo eleitoral, além de muitas vezes praticarem revisionismo com nossa história, nos impedem de avançar e fortalecer nossa posição enquanto partido e enquanto movimento na disputa contra a esquerda liberal pela hegemonia da esquerda, em geral, na luta pelo poder.

5: Encaminhamento para corrigir tais equívocos no VI Congresso Nacional

A questão da disputa pela hegemonia e visão de mundo e da formação política:

1 – Elaborar uma estratégia partidária, de médio e longo prazo, séria e meticulosa de propaganda e cultura que envolva a criação de uma editora, jornais, revistas, tanto físicos quanto digitais o lançamento de livros relativos a nossa teoria política, que promova e garanta a logística para palestras e formações políticas sistemáticas e em massa, que promova e facilite a atuação de quadros políticos como “influenciadores no debate público”, que promova e facilite a atuação de quadros políticos que atuem no setor cultural ou artístico.
Em suma, todos os mecanismos indispensáveis para o fortalecimento e manutenção de nossa cultura política, que visam disputar a opinião pública e a hegemonia do pensamento da sociedade brasileira, em geral, e não apenas como finalidade de marketing político eleitoral.

2- Fortalecer os cursos que já existem na Universidade aberta Leonel Brizola, com apoio da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, instituindo mais mecanismos de fomento para pesquisa e produção de novos conteúdos teóricos acerca do passado e do futuro de nossa cultura política de forma a começar a competir no ramo da produção do conhecimento, com uma estratégia de médio e longo prazo para que este polo de conhecimento represente com excelência o pensamento social brasileiro no debate público e acadêmico.

A questão da organização e organicidade:

1- Elaborar junto a todos os movimentos partidários uma estratégia partidária com projetos concretos para multiplicar e expandir os níveis de trabalho de base como ocupações, pré-vestibulares sociais, projetos sociais esportivos e de laser, e todas as atividades e trabalhos sociais para além do cretinismo parlamentar, que ajudam a disputar o coração e a visão de mundo da população local construindo organicidade para criar condições de hegemonia, bem como estabelecer uma estratégia partidária de apoio logístico e de estrutura aos Núcleos de Base.

2 – Expandir os níveis de democracia interna em alguns espaços de nosso partido onde ela ainda funciona de forma precária, pois isso afeta diretamente o grau de organização e mobilização de nossa militância, especialmente em função do interesse local de certas lideranças, em detrimento do interesse partidário, de nossos valores, princípios, visão de mundo e de qualquer razão de partido.

3 – Estabelecer uma criteriosa estratégia de formação, qualificação e promoção dos quadros, desde a Juventude Socialista e o movimento estudantil, de forma que, no futuro próximo, nenhum parlamentar, candidato ou dirigente local de nosso partido seja um estranho sem nenhuma ligação com a cultura política do trabalhismo brasileiro e nossa visão de mundo, princípios e valores.

6: Sobre os movimentos de massa, a disputa pelo poder, e o trabalhismo:

O contexto de rápida transição tecnológica, atrelado a quarta revolução industrial, representa uma brusca mudança na intensidade dos fluxos de informação, impactando profundamente no setor midiático e de propaganda. Isso é visível sobretudo no terceiro mundo, por conta das assimetrias da globalização e da escalada de competição e da guerra de propaganda entre os países centrais do capitalismo e os BRICS. O avanço de tais formas de mídia, atrelados a mídia convencional, e da interação das pessoas com elas, bem como suas formas de utilização política pelas classes sociais, tem relação direta, por exemplo, com o fato da década passada, de 2010 até 2020, ser, em sua essência, uma década de mobilizações de massa no Brasil.

Podemos ponderar, por exemplo, quanto a natureza artificial de certos movimentos de massa que tem apoio tanto da classe dominante submissa local, quanto do imperialismo, mas não podemos negar a centralidade da luta de massas na luta pelo poder político no Brasil. A direita e a extrema-direita, a partir da legitimidade gerada por seus movimentos de massa artificiais e suas mídias, sacramentaram um golpe no Brasil em 2016. Além disso, é importante notar que a adesão de maior parte dos partidos de esquerda ao neoliberalismo progressista e ao cretinismo parlamentar amansou e destruiu a capacidade de mobilização de massas da esquerda.

O trabalhismo, verdadeiro socialismo brasileiro, não deveria ter vergonha de representar esse papel histórico de construir um movimento de massas socialista no Brasil do século XXI. O trabalhismo brasileiro é responsável, junto ao movimento comunista, por formar grande parte da identidade cultural nacional brasileira e também de nossa esquerda durante o século XX.

Isso, contudo, não virá espontaneamente através de nossa militância, nem a partir de um esforço individual. Pelo contrário, se a classe dominante e seus movimentos contra-revolucionários e golpistas tem apoio interno e externo, financeiro e de mídia, o movimento trabalhista, partindo sempre de um confronto assimétrico em posição de desvantagem, precisa mais do que nunca do apoio, organização, logística e decisão estratégica de nosso partido. Se precisamos disputar a história e a historiografia, por exemplo, não existe desculpa para nível baixo de um trabalho sistemático de nosso partido e de nossa fundação para disputar a historiografia. Nenhuma universidade irá patrocinar uma retomada da visão de mundo trabalhista.

Não existe entidade estrangeira, oligarca, personalidade pública, rede de mídia, que possa ou tenha interesse em auxiliar na criação de movimento de massas trabalhista. A única organização ou entidade que se importa e é responsável por isso é o Partido Democrático Trabalhista, e é exatamente por isso que os trabalhistas têm que fortalecer seu partido, enquanto buscam melhorar seus equívocos e assimetrias internas, para dar fim às sequelas do fisiologismo e do cretinismo parlamentar e resolver a questão “cirista”, que continua a ser um potencial mal aproveitado pelo partido.

7: Conclusão – Um chamado para que todos os trabalhistas sigam esse caminho!

Vivemos um contexto marcado pela coexistência de importantes fatores em diferentes planos, tais quais, a formação gradual de uma nova ordem mundial, a crise do neoliberalismo ao nível nacional e internacional, e a existência de um período propício para disputa de movimentos de massas. Além disso, é verificável em vários casos que, tanto no continente americano quanto na Europa ocidental, a adesão de grande parte da esquerda ao neoliberalismo acabou por influenciar no crescimento da extrema-direita, em um contexto que a esquerda abdica de seu papel transformador para com a nação e a classe trabalhadora, e tenta humanizar o projeto político e econômico da direita.

O movimento trabalhista e seu partido, tem que entender tal contexto com uma dupla reflexão. Se por um lado os desafios são imensos e a responsabilidade histórica é tremenda, por outro lado, o movimento trabalhista detém a melhor posição a médio prazo, se souber batalhar na disputa corretamente. Isso se dá, pois, a visão de mundo trabalhista é naturalmente multipolar em relações internacionais, nacionalista popular e anti-imperialista, sua visão econômica é extremamente crítica ao neoliberalismo, inclusive nas esquerdas, e, enquanto representante do socialismo brasileiro, o trabalhismo esteve historicamente conectado com intensos momentos de mobilização e disputa de massas.

Em outras palavras, de um ponto de vista geral, o trabalhismo brasileiro está bem posicionado teórica e ideologicamente para a nova ordem mundial que se desenha com a ascensão dos BRICS, tem um programa político e econômico minimamente compatível com o contexto de quarta revolução industrial e crise do neoliberalismo, e, como crítico desse modelo, se não capitular ao social-liberalismo, por seu tamanho e história, tem grandes chances na disputa pela hegemonia dentro da esquerda contra seus adversários, bem como na disputa pulsão por transformação social contra a extrema-direita.

O movimento trabalhista deve, portanto, negar as armadilhas e tentações da frustração pelo desafio vencido e as injustiças do processo, e deve corrigir certa postura reativa por parte de alguns companheiros e simpatizantes, que acabam inconscientemente nos jogando para uma posição de centro e centro-direita. Precisamos estar atentos contra qualquer desvio de direita, ou desvio social liberal e manter nossa posição e trabalhar para construir um movimento de massas para termos força e condições de uma futura disputa pelo poder. O Trabalhismo Brasileiro em sua história, como mostra o exemplo de Roberto Silveira na interiorização e crescimento do antigo PTB, sempre cresceu e rendeu mais quando se colocou no papel de radical defensor de uma esquerda nacional-popular e do socialismo brasileiro.

Exatamente por isso, o Partido Democrático Trabalhista, em seu VI Congresso Nacional, deve tratar e debater com extrema seriedade e urgência a disputa pela visão de mundo e hegemonia da sociedade brasileira para além da questão eleitoral, e a criação de um movimento de massas relativo ao trabalhismo brasileiro e sua cultura política, com a criação de estratégias de longo prazo para fomento e financiamento a mídias, editora, formação política, e a execução de projetos sociais a partir de movimentos e núcleos de base, bem como a disputa pela produção do conhecimento a partir da Fundação Leonel Brizola e da Universidade aberta Leonel Brizola.

Este post tem 6 comentários

  1. Rafael

    Ótima posição! Expulsar os eleitoreiros e oportunistas do Partido Trabalhista!

  2. Lucas Barros

    Diagnóstico perfeito do Daniel! Somos o socialismo brasileiro!

  3. Túlio

    Contribuição importante camarada ! Identificar o fisiologismo como o maior inimigo atual do PDT, e a quem se deve combater com organização e formação é essencial. Promover a cultura política trabalhista é lutar pela consciência do nosso povo. A chama do nosso papel histórico ainda não se apagou, e o sentimento saudoso do nosso povo para com nossas lideranças é um retrato disso.

    Abraços fraternos diretamente de Caruaru-PE

  4. Cintia

    Parabéns! Ótimo artigo!

  5. Marcos André

    A responsabilidade é nossa! Nós somos os arquitetos do Brasil moderno. Se a esquerda hegemônica abdica de sua responsabilidade, enquanto hegemônica, nós não podemos nos render, e isso passa por uma reestruturação fundamental do partido para que ele esteja preparado para os próximos anos.

    É isso! ????????????????????

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