Por um Trabalhismo Socialista e Presente nas Redes

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Bernardo Brandão- Estudante de Direito, filiado ao PDT e militante da Ação Popular Revolucionária (APR)

Entre as décadas de 1950 e 1960, no embalo do tiro que Getúlio Dornelles Vargas dispara contra o próprio peito, a militância nacionalista brasileira se conduz cada vez mais ao caminho do socialismo. Ainda que de origem burguesa, o nacionalismo varguista esbarra nas amarras do capital estrangeiro. Desse embate, foi construído o anti-imperialismo que tanto assustou os oficiais estudados na ESG e filiados ao pensamento entreguista.

Os voos rasantes pelo Catete em 1954 só não deságuam em algo similar ao ataque de 1973 ao La Moneda, graças ao desfecho trágico e heroico ao qual Vargas se submete. Oito dias antes de disparar contra o próprio peito, o presidente recebe Assis Chateaubriand no Catete, como revela o jornalista José Augusto Ribeiro na trilogia “Era Vargas”. Durante a conversa, o magnata oferece espaço na televisão para o político reverter a crise instaurada desde a morte do Major Vaz. O espaço na mídia traria o custo, porém, da desistência da Petrobrás, o que Vargas recusa. Os interesses do proletariado brasileiro esbarram no projeto das elites para o país, algo deixado claro, com nome aos bois, na Carta-Testamento.

No exílio, o grande intelectual brasileiro Theotônio dos Santos escreveu uma obra fundamental para compreender o caminho percorrido pelas esquerdas e pela direita na América Latina. Em “Socialismo ou Fascismo”, livro publicado no Brasil apenas após a morte do autor, o marxista demonstra como a luta nacionalista segue o natural caminho de radicalização socialista nos países flagelados pela dependência econômica. Em contrapartida, como desenvolve Theotônio, a direita tende cada vez mais ao totalitarismo em defesa do domínio do grande capital.

Na crise construída pelos mesmos conspiradores que levaram Getúlio ao suicídio, Jango é deposto por um golpe empresarial-militar fortemente apoiado pelos Estados Unidos. A despeito dessa óbvia interferência externa, não devemos reduzir o golpe à velha Doutrina Monroe e seus epifenômenos. O apoio das classes médias reacionárias, sempre em busca do imediatismo, e o decisivo papel das classes dirigentes brasileiras, consagraram a queda de Goulart. O intuito de 1964 foi de tanta importância para os espoliadores do povo brasileiro, que custou a derrocada da legalidade.

A partir da instauração do regime norte-americanista, foram perseguidos e exilados os intelectuais e jornalistas que melhor compreenderam o Brasil: Darcy Ribeiro, Vânia Bambirra, Theotônio dos Santos, Moniz Bandeira, Neiva Moreira e tantos outros. No âmbito da política, Leonel Brizola foi condenado ao mais longo exílio, custo de tomar a dianteira do processo de radicalização socialista do trabalhismo.

Castello assegurou a ordem burguesa através do “expurgo” da vida política efervescente no Brasil desde a Carta-Testamento. Institucionalmente, o legado estatal de Vargas seria implodido apenas na fase neoliberal e democrática do projeto das classes dominantes.

Durante os 21 anos de ditadura militar, a alienação do povo brasileiro caminhou a passos largos. E, quando finalmente é chegada a hora da redemocratização, se consolida uma nova esquerda forjada na aliança entre a intelectualidade paulistana, o operariado do ABC e os pensadores da teologia da libertação. Graças à boa vontade de Golbery, o petismo ganha força para superar o socialismo moreno de Brizola e Darcy no final do século XX.

Para o devido êxito do desmonte das estatais legadas pelo trabalhismo brasileiro, o silenciamento político de Brizola foi fundamental. No primeiro volume dos seus diários publicados pela Cia. das Letras, FHC suspira: “Brizola continua com a sua velha cantilena, mas já não tem mais eco”.

A obra fundamental das elites nacionais e internacionais é o fracasso do trabalhismo enquanto movimento de massas, implicando em um país desgarrado do seu sentido. O enfraquecimento da luta pelo interesse da classe trabalhadora brasileira faz bem aos exploradores desta. Pouco se fala na questão nacional, embora siga vivo o nacionalismo no peito do povo brasileiro. A nossa gente sente um imenso orgulho do próprio país, enquanto parte dos progressistas acredita viver em um mundo cujas fronteiras foram derrubadas pela globalização. Cada vez menos se fala em imperialismo — quando se fala, é para anunciar a sua morte —, os autores lidos são do centro capitalista ou os seus incorporadores acríticos.

Na sua obra, Darcy Ribeiro percebe que o Brasil já é a “Nova Roma” no sentido cultural, mas precisa consolidar-se enquanto tal no âmbito econômico. Para alcançar esse intuito, é preciso libertar o povo das amarras do capitalismo dependente aqui presente. Na América Latina, o nacionalismo popular é combustível revolucionário. Não se trata do terrível e absurdo chauvinismo ou da inútil apologia aos símbolos esvaziados, mas de uma composição entre nacionalismo e o internacionalismo proletário.

Parece absurdo falar em nacionalismo internacionalista no Brasil. Isso é compreensível, dado que, por aqui, pouco se lê José Martí, Theotônio dos Santos, Vânia Bambirra, Alcira Argumedo e outros pensadores importantes para a luta nacionalista latino-americana. Enquanto tal espaço não for ocupado, os reacionários continuarão a usar os símbolos nacionais no intuito de promover o revés que uma posição nacionalista apoiaria.

É bem-sabido entre trabalhistas que, desde o sucesso da revolução de 1930, não houve momento pior para o trabalhador brasileiro que a ditadura iniciada pelo golpe anti-trabalhista de 1964. O arrocho salarial, a perda do poder de compra, o atraso das reformas de base e a repressão foram a antítese do que se construía no governo João Goulart. A Nova República manteve o compromisso com as classes dominantes. O trabalhismo jamais conseguiu se recuperar da derrota sofrida na década de 1960. A força que saciou a sede dos tanques militares em 1964 foi a mesma que garantiu a ascensão política do “sociologist” Fernando Henrique Cardoso: o capital estrangeiro aliado às suas subordinadas elites nacionais. Durante os quatro anos do governo reacionário de Jair Messias Bolsonaro, o Brasil se afundou ainda mais na colonização cultural e no subdesenvolvimento.

Atualmente, a política nacional é mobilizada por duas forças alheias ao processo de emancipação iniciado por Vargas e interrompido pelo golpe de 1964. Nesse cenário, o trabalhismo precisa assumir o dever de construir um futuro que não apenas honre o passado de suas lideranças, mas que perceba as transformações pelas quais o Brasil e o mundo passaram desde a nossa última passagem pelo executivo nacional.

O grande jornalista Paulo Henrique Amorim, em prefácio à obra “Leonel Brizola: a legalidade e outros pensamentos conclusivos”, reconhece a incapacidade do grande e virtuoso ex-governador do Rio de Janeiro em dominar a linguagem televisiva com o mesmo brilhantismo com o qual usou o rádio.

Se a voz de Getúlio e Brizola tanto ecoaram a partir das rádios, foram Lacerda e Collor os grandes vitoriosos pelo uso da televisão no século passado. Se faz presente, no entanto, um novo veículo de comunicação das massas: a internet. Mais democrático, pela facilidade na sua operação e maior abrangência, embora ainda dominado pela manipulação dos interesses imperialistas e marcado pela atuação de uma nova extrema-direita.

Ao defender, nos parágrafos acima, o dever de lutar pelo fortalecimento da causa trabalhista, irremediavelmente socialista, busco justificar uma medida urgente: a consolidação de uma rede de comunicação na internet que multiplique as nossas mensagens políticas. A imensa gama de redes sociais e formatos de conteúdo precisam ser explorados, na medida das suas potencialidades, com o intuito de divulgar o trabalhismo em seu passado, presente e propostas para o futuro. É preciso que a formação política de nossos militantes forneça as ferramentas necessárias para a aprendizagem de métodos de criação e divulgação de conteúdo político pelos novos meios.

Apenas ao retomarmos o domínio sobre os meios de comunicação, o que perdemos com o advento da televisão e o golpe de 1964, seremos capazes de edificar o tão necessário trabalhismo do século atual.

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