Por FC Leite Filho
Um jornal ideológico e popular que chegou a alcançar 400 mil exemplares. Uma de suas características era não ter preço na capa e ser sustentado pelos seus leitores. E quem eram esses leitores? O “homem da rua”, como o Panfleto – este era o nome do semanário -, como se orgulhava de proclamar em seu frontispício.
O segredo era empolgar de tal maneira os leitores para que estes desembolsassem o quanto pudessem para preservar a experiência. É claro que estamos falando de uma outra época, em que o individualismo e a intolerância não eram tão arraigados como hoje.
Nos remetemos a antes do Golpe de 1964, quando o Brasil vivia uma época pujante de de criatividade e confiança em sua gente. Paulo Freire desenvolvia seu método de Alfabetização, proibido depois pela ditadura, mas exportado para a maioria dos outros países, a música, Chico, Jobim e Vinicius impulsionavam a bossa nova, o teatro, o cinema, a literatura e o próprio jornalismo viviam uma trepidação irradiante.
Tudo isto era divulgado e trocado em miúdos no Panfleto, que também incendiava o país com as exortações nacionalistas de Leonel Brizola e de sua equipe de jovens e talentosos intelectuais como Paulo Francis, Fernando Gabeira, Paulo Shchiling, Tarso de Castro, Neiva Moreira e tantos outros.
A historiadora gaúcha Elenice Szatikoski debruçou-se sobre a experiência do Panfleto, numa tese de doutorado da PUC do Rio Grande do Sul, que resultou num livro, “O Jornal Panfleto e a Construção do Brizolismo”. Dez anos antes, tinha escrito outra tese, também objeto de livro, “Os Grupos dos 11 – Uma insurreição reprimida”, outra criação de Brizola que fazia tremer os golpistas.
No momento em que o ar volta a ser infestado por novos ensaios de ruptura constitucional, nada melhor do que ouvir da própria historiadora o que ela apurou nestes 20 anos de pesquisa junto ao povo, os perseguidos, presos e escarafunchou os arquivos militares sobre os chamados anos de chumbo.
Nesta entrevista que me deu para o Café na Política, em 11/02/16, Szatikoski ainda arriscou uma projeção do que seria, com os instrumentos modernos de hoje, um instrumento comunicacional contra a nova tentação totalitária: “As redes sociais precisam ter conteúdo”, conclui.
Yeda Ponte