Por muitas circunstâncias tristes mães chorarão no mês de maio seus filhos perdidos por fatalidades, doenças e violência. Para cada mãe, que neste mês não importa quanto tempo, carrega essa ferida no coração partido, minha solidariedade e carinho.
Contudo, quero falar de um grupo de mães, não que sua dor seja maior ou menor do que qualquer outra mãe, mas peço licença para dar voz às mães dos jovens negros exterminados pelo tráfico e pelas forças de segurança.
O genocídio da juventude negra tem números estarrecedores.
O Mapa da Violência em 2014 nos mostra que em 2012 no Brasil foram assassinadas 56. 337 pessoas, destas 30.072 eram jovens na idade de 14 a 24 anos. Isso significa que 7 jovens morrem a cada duas horas no Brasil, totalizando 82 jovens por dia, e desses assassinados 70% são negros (pretos e pardos), e 93% são homens.
Esse mesmo mapa mostra uma diferença assustadora. Ocorre uma significativa queda no número de homicídios de jovens brancos; entretanto, nos mostra o crescimento da mortandade dos jovens negros, ora se em 2002 morriam 10.072 jovens brancos para cada 100 mil habitantes, as mortes caem para 6.823 em 2012. Porém, observamos que o número de homicídios de jovens negros saltou de 17.499 para 23.160 no mesmo período. Assim sendo a mortalidade de jovens brancos caiu de 32,3% e a de jovens negros aumentou 32,4%, para cada jovem branco morto, morrem 2,7 negros.
Neste fim de semana na praça mais movimentada do bairro onde moro no Rio de Janeiro foi assassinado um jovem negro de 16 anos. Mais uma mãe chorará os próximos meses de maio.
Por que essas mães estão chorando? Quando me faço essa pergunta sempre me lembro do caso de Costa Barros, que quatro jovens da comunidade saíram para comemorar o primeiro salário de Jovem Aprendiz de um deles, e ao voltarem de carro foram massacrados com 111 tiros por PM, na entrada da favela.
São mortos por uma ideologia centenária, melhor quatrocentenária, desde que o primeiro africano sequestrado foi escravizado no Brasil, de que um preto é um não humano, um incivilizado, um primitivo, por conseguinte um não cidadão.
Na comunidade, na favela, na periferia, na baixada não existem cidadãos, na mente da maioria dos componentes do Estado e da elite que o compõe, negros são marginais, incivilizados, que precisam ser “policiados”, afinal, o cidadão de bem, tão falado e aclamado no congresso nesses últimos dias, que em outras palavras significa: branco, classe média alta ou classe média precisa ser e ter segurança contra os “marginaizinhos”, “bandidos”, como disse certo governador sobre a legalização do aborto: “Uma mulher favelada não tem filhos, tem uma quadrilha”.
E a quadrilha tem que ser presa, a maioria absoluta no sistema carcerário e no sistema de medidas socioeducativas dos adolescentes em conflitos com a lei são jovens negros, com baixa ou nenhuma escolaridade, vindo de famílias extremamente pobres. E, se a “justiça” não mantém preso com leis mais rígidas, a solução é a mais definitiva: a pena de morte.
Sim, pena de morte existe no Brasil e é largamente conhecida da juventude negra. E, para nos estarrecer mais ainda, das crianças negras, porque o leque de jovens negros assassinados está se abrindo para os pré-adolescentes com idade de 11 e 12 anos.
Neste mês, lágrimas brotarão dos olhos de muitas, muitas mães negras pelo Brasil.
Não haverá consolo, haverá saudade, haverá um sentimento de inconformidade pela impunidade, haverá medo pelos filhos que ainda tem, e infelizmente haverão aquelas que derramarão suas lágrimas pela primeira vez.
Candida Maria Ferreira da Silva