COMO UM DIA DE DOMINGO

Gostaria de ser breve ao escrever este texto, mas não dá. Preciso ser mais poética. Afinal, a poesia tomou conta dos lares dos brasileiros na noite do último domingo. Poesias decoradas, de quinta categoria.

A votação pela admissibilidade do impeachment de uma Presidenta da República foi um verdadeiro festival de palavras vazias, sem qualquer argumento: 367 votos de falta de argumento. Ah, argumentos! Esses se ausentaram, se abstiveram. Era o sim pelo sim; o sim pelo cargo prometido lá na frente; o sim pelas promessas ou por chantagens. O sim era, sim, para aparecer.

Um circo, embora sem as virtudes de um Circo, mas com direito a palhaços, animais selvagens, confetes e firulas. No palco montado, cenas exaustivamente ensaiadas para tentar convencer a nós, o povo, de que eles estariam indignados com algo. O palhaço de verdade, Tiririca, coitado, contente por ser usado e aplaudido por aqueles que jamais riram das suas piadas de povão. Aplausos vazios…

As redes sociais gritavam de vergonha! Os representantes do povo viraram chacota pelo povo. Parecia ser mais importante mandar um beijo para o sobrinho que o assistia, ao objetivo real que levava o parlamentar ao microfone. Um deles interrompeu o voto do colega para enviar um beijo a um dos filhos a quem tinha “esquecido” de pronunciar durante seu voto pelo impeachment! Ele esqueceu do filho! Numa votação que decidiria o futuro da nação! Que absurdo! Não é a Dilma quem está perdida, companheiros, somos nós! Certeza!

Ver mulheres votando contra uma das suas, é de cortar a alma. Mulheres que hoje podem exercer mandatos legislativos graças à tortura sofrida na pele pela própria presidenta, a quem elas chamavam ironicamente de “querida”.

E o “querida” hein? Quanto machismo, sexismo, cinismo. Eles que dedicaram seus votos golpistas às suas famílias, mulheres, filhas e netas, que juravam o voto ao respeito e à dignidade familiar, tripudiavam de forma violenta de uma mãe e avó de família. Quanta contradição, meu Deus.

E por falar em Deus, este reinou absoluto entre os discursos do golpe. Tripudiar do eleitor já não bastava: precisavam tripudiar de Deus e da fé dos homens. Até o mais analfabeto político ou o maior cristão da terra percebia a mentira e o cinismo de quando citavam o nome do Pai. Utilizavam do direito à palavra, dado pelo povo, para proferir, em vão, palavras – divinas ou não.

Alguns tentaram se explicar ao atribuir seus votos à força das redes sociais. Mais uma mentira. Qualquer pessoa que pare um minuto à frente de computador, tablet ou smartphone nota a diferença na qualidade do discurso de direita e de esquerda, nas redes. Os que se referiram Vossas Excelências são, na sua maioria, fakes disfarçados de ‘militOntos’. Eles não têm discurso nem quando não mostram a cara. São despreparados, agressivos, raivosos e, sobretudo, burros. A turma do Ctrl C + Ctrl V.

É importante valorizarmos o cidadão ou cidadã que defende suas visões de forma firme, que debate com clareza, com dados, coerência. Desta forma, podemos até chegar a um ponto comum, independente do ponto de vista. Mas o discurso do ódio pregado pelos políticos vazios é incompreensível. Impossível de se debater.

A noite de domingo teve de tudo: uns, nitidamente constrangidos, falavam rápido e baixo; outros assumiam verbalmente terem sido coagidos a votar na rasa posição. Uma dezena deles pediu desculpas. À Presidenta, ao ex-Presidente, ao seu partido… uma chuva de desculpas. Desculpas vazias.

Partidos que surgiram como promessa do novo, aliados aos podres de maduros.

Marina Silva, e ela hein? Raivosa e magoada, mandou parte da sua galera para o golpe. Que pena.

O grande saldo que tiro disto tudo é a certeza de que a esquerda de verdade no Brasil reviveu. Sim, ela existe, em número modesto no Parlamento, em grande número nas redes e nas ruas; porém, muito bem representada e preparada. O dia de domingo nos serviu para mostrar que esta esquerda tem cara. Em meio a tanto desorgulho, orgulho.

E em meio à tristeza de ver a democracia desabar, só me resta a esperança por melhores e mais jovens gerações de políticos. Mas que tenham humildade para aprender.

– Que assumam como professores grandes estadistas de ontem e de hoje; mas que, acima de tudo, sejam dignos e honrados, como alguns os foram no dia de domingo.

– Que tomem como exemplo nos 367 golpistas: o que não ser.

Por fim, que sejam jovens nas idéias, no vigor, na luta. Que sejam sábios como Leonel Brizola. Que morram pelos seus princípios, como fez Getúlio Vargas. Que tenham coragem de gritar e espernear, como fez Jandira Feghali. Que tenham coragem em dar um ultimato, como fez Carlos Lupi. Que deixem de lado as palavras bonitas e xinguem do que tem de xingar como fez Jean Willis. Que não abaixem a cabeça para seu povo, como fez Marco Antônio Cabral. E não votem contra uma ideologia, como infelizmente fizeram seis que pareciam ser nossos companheiros.

Ao PDT de ontem, de hoje e de amanhã, deixo uma mensagem de orgulho em fazer parte desta escola. Com desejo de ver a juventude empoderada, responsável, levando para as Casas do Povo a nossa convicção. O desejo de ver um partido unido em uma só voz. De termos certeza de como votarão nossos deputados, sem receios.

Se depender da juventude, vai ter luta! Só depende de nós.

 
Tassia Santos