O título conquistado pela Estação Primeira de Mangueira no Carnaval carioca coroa de forma indiscutível uma das escolas de samba mais queridas e popular do Brasil, e mais do que isso, demonstra de forma clara que o enaltecer de nossa cepa cultural não deve ser renegada aos guetos.
Aliás, a Mangueira sempre foi pródiga em buscar grandes personagens de nossa cultura para homenagear.
Fundada através da fusão dos blocos Dos Arengueiros de Tia Fé, Senhor Julio, Mestre Candinho, e Rancho Príncipe das Florestas, ganhou suas cores sugeridas por Angenor de Oliveira, o grande mestre Cartola, que igualmente inspirou o nome por meio de seu samba Chega de Demanda.
“Chega de demanda
Chega!
Com este time temos que ganhar
Somos da Estação Primeira
Salve o Morro de Mangueira”
Desde seu primeiro título carnavalesco em 1932 com “Sorrindo e na Floresta” a Mangueira fez inesquecíveis carnavais.
Em 1933 cantou “Uma segunda Feira do Bonfim da Bahia” exaltando Castro Alves, Olavo Bilac, Gonçalves Dias e outros imortais.
Em 1949 fez uma Apoteose aos Mestres, “Glória aos nossos antepassados. Com seus nomes gravados. Na historia da pátria amada. Oswaldo Cruz, Miguel Couto, Rui Barbosa, Ana Neri…”
Monteiro Lobato teve sua vez no desfile de 1967 “E assim. Neste cenário de valor. Eis o mundo encantado. Que Monteiro Lobato criou…”
Inesquecível Braguinha carnaval de 1984 “Vem. Ouvir de novo o meu cantar. Vem ouvir as pastorinhas. A luz de um pássaro cantor. Yes, nós temos Braguinha”.
Emocionante foi ver Caymmi em 1986, em que a verde rosa cantou e encantou “Lua Cheia. Leva a jangada pro mar. Oh, seria. Como é belo o teu cantar. Das estrelas. A mais Linda ta no Gantois.” Mangueira berço do samba. Caymmi a inspiração. Que mora no meu coração. Bahia terra sagrada. Iemanjá, Iansã.
Mangueira supercampeã. Tem xinxim e acarajé. Tamborim e samba no Pé.
No embalo da Mangueira, Carlos Drummond de Andrade virou enredo em 1987 e foi de mãos dadas com a poesia que o Brasil cantou “Mangueira. De mãos dadas com poesia. Traz para os braços do povo. Este poeta genial. Carlos Drummond de Andrade. Suas obras são palavras. De um reino de verdade…”
Em 1998 surge o Guri, do sempre genial Chico Buarque, a Verde Rosa bradou “É o Chico das artes, o gênio. Poeta Buarque, boêmio. Sua vida no palco, teatro, cinema. Malandro sambista, carioca da gema.
Agora a Estação Primeira recebe um chamado de Maria Bethania e a escola do povo, de poetas, sambistas e boêmios, canta “Quem me chamou? Mangueira chegou a hora, não dá mais pra segurar Quem me chamou? chamou pra sambar Não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá Não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá…”
Um tributo ao bom gosto, um título que engrandece a cultura nacional, afinal cantou em 1992 “Se todos fossem iguais a você” até porque “É carnaval. É a doce ilusão. É promessa de vida no meu coração. Vem, vem amar a liberdade. Vem cantar e sorrir. Por um mundo melhor. Vem, meu coração está em festa. Eu sou a mangueira em Tom Maior” …
Viva a Estação Primeira de Mangueira.
Henrique Matthiesen