O povo brasileiro colocou o Brasil entre as dez potências industriais do mundo. Este povo, trabalhando e produzindo tanto, deveria ser próspero, saudável e feliz. Entretanto, é deformado pela exploração que sofre mal informado, sobretudo, inseguro sobre as possibilidades de trabalho e de sobrevivência.
Tornou-se tradicional a afirmação de que nosso povo é preguiçoso, sem caráter e desinteressado em aprender e progredir. Mas os que construíram esta interpretação são aqueles que se enriqueceram explorando impiedosamente escravos e trabalhadores. São os mesmos que vêm consolidando este modelo de desenvolvimento desumano e propulsor de uma guerra interna expressa em quebra, saques e depredações e que opõe elites instruídas e poderosas a uma massa destituída de informações se de controle sobre os instrumentos que produz, os quais podem – como ocorreu em Goiânia com o acidente do césio – destruir a vida de todos nós. É a isto que as elites chamam de “modernização do Brasil”.
Tem sido difícil aprendermos as formas de expressar nosso orgulho e consciência de povo por nossa história, nossa cor e nossas mãos calejadas. Foi lentamente que entendemos o valor das manifestações e lutas travadas por décadas e décadas. Aos poucos, entretanto, amadurecemos na compreensão de nossa trajetória, identificamos e ampliamos nossas formas de organização e registramos as manifestações reveladoras de nossa capacidade de negar e mudar a ordem imposta.
Hoje este processo de conscientização se projeta na organização de nossos movimentos sindical, estudantil, comunitário, pela terra, pela vida, pelo verde pela expressão de nossa negritude ou pelas escolhas afetivas e existenciais livres, de homens e mulheres.
Não é verdade que o povo brasileiro, cansado da política e de seus engodos, desiste de lutar. À flor da pele, ele está lutando pelos seus interesses específicos. É preciso um partido político generoso, decente e popular dê repercussão, generalidade e conseqüências duradouras às suas lutas.
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