Vem-me sempre à luz o semblante de meu pai nas longas conversas do exílio. Lembro-me, perfeitamente dos momentos de solidão a beira da lareira da fazenda “El Milagro”, em Maldonado, Uruguay, onde durante horas e horas ele fazia exercício de memória dos traidores da democracia, que haviam abandonado não a ele, mas abandonado um projeto de Nação, o das “Reformas de Base” em 1964 e mergulhado o país em 21 anos de ditadura.
Na época, ele, meu pai, o deposto presidente João Goulart, tildado no Brasil como comunista, corrupto, incompetente, incendiário e pró república sindicalista, vivia amargamente seu exílio, mas com absoluta certeza que a história o anistiaria. Não seriam os homens, nem seus carrascos, nem seus detratores e nem sequer a prepotência dos ditadores do povo brasileiro que lhe colocariam na história.
Seria o tempo. A história é implacável com seus traidores.
Quando lembrava de sua chegada ao Uruguay no dia 4 de abril, sempre fazia questão de afirmar, que tinha permanecido em território brasileiro, mesmo escondido em seus campos do Rio Grande do Sul, para não ser preso, esperando que o Congresso Nacional, depois da vergonhosa cessão da vacância presidencial que legitimou o Golpe de Estado, empossara Mazzilli, e, desta forma ele Jango, conseguiria configurar aquele ato do Congresso, como Golpe proferido a Constituição brasileira.
Tinha sido traído por um Congresso, eleito em 1962, sob financiamento do IBADE (leia-se dinheiro de verba secreta da CIA) onde uma CPI, que foi, inclusive presidida por Ulisses Guimarães e o grande Rubens Paiva, que até hoje a Nação não sabe onde estão seus restos mortais, fora instalada em 1963, e a mesma, detectado 172 parlamentares financiados com aqueles fundos.
Parece até cabalístico, mas 172 é o número hoje para salvar a democracia brasileira.
As semelhanças não param por aí.
A FIESP, colaborou com o golpe de 1964, colabora hoje com esta vergonha de “impeachment” travestido de golpe. Segue derramando dinheiro entre os vendedores da Pátria.
A mídia, capitaneada pela Globo, que até pouco tempo atrás pediu desculpas pelo apoio ao golpe de 1964, hoje continua descaradamente a manipular a opinião pública no mesmo sentido, como fez contra o governo Goulart.
Jango hoje, apesar de seus detratores, já ocupa um lugar na história do Brasil, tornou-se o único presidente constitucional de nosso país a morrer no exílio lutando pela liberdade e pela democracia.
Quem se lembra dos traidores do Congresso de outrora?
A não ser do único nome que declarara vaga a presidência com o chefe da Nação dentro do território nacional?
O traidor Áureo Moura de Andrade.
Haverá sim na história, um lugar seguro para os traidores de hoje, todos eles, capitaneados pelo novo e corrupto-mor da nação brasileira, Eduardo Cunha e seus asseclas liderados por ele.
O Brasil não merece tal desígnio. Haveremos de resistir.
Em nome da Liberdade, em nome da legalidade, em nome da Democracia: vamos resistir.
Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!
João Vicente Goulart
João Vicente Goulart