AS FRANJAS SOCIAIS E O FUTURO DO TRABALHISMO EM SALVADOR/BAHIA – UMA REFLEXÃO SOBRE AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2024

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Ricardo Justo de Oliveira – filiado ao PDT da Bahia desde 1990. Autor do livro  “Governalismo – Construindo Pontes para um Governo Justo: Global, Local, Individual”

Introdução

As eleições municipais, ocorridas em 06 de outubro de 2024, em Salvador/Bahia, trouxeram à tona importantes questionamentos sobre a dinâmica do poder político e a preservação dos ideais Trabalhistas no cenário local.

O PDT, com sua histórica ligação às causas populares, em especial à luta pela justiça social e pela democratização da qualidade da educação, trabalho, saúde e habitação, entre outras, obteve um desempenho significativo, reelegendo 1 vereador e elegendo 1 vereador e 2 vereadoras oriundas de outros partidos políticos, admitidas na janela partidária de 2024.

Além disso, a recondução de Ana Paula Matos ao cargo de Vice-prefeita de Salvador, pelo partido, reflete um voto de confiança dos eleitores e eleitoras soteropolitanas para a cooperação na construção de uma Salvador como a Capital da Cultura de Paz.

Contudo, esse quadro é também um chamado à reflexão: estarão esses mandatos alinhados aos ideais Trabalhistas? Ou veremos o partido sucumbir às práticas fisiológicas, que é um tipo de relação de poder político em que ações e decisões são tomadas em troca de apoios, favorecimentos e outros benefícios a interesses privados, em detrimento do bem comum. Corremos o risco de descaracterizar a nossa identidade partidária?

Nossa Representatividade das Franjas Sociais

As respostas às perguntas levantadas acima, remete-nos às origens do PDT em Salvador, a qual está intimamente ligada aos Movimentos e às bases sociais do Partido, presentes nas diversas estratificações sociais,  especialmente naquelas que denominamos de “Franjas Sociais”: segmentos marginalizados do poder formal, mas ricos em dinamismo, organização comunitária e empreendedorismo social.

Nossos Movimentos Sociais emergiram de comunidades periféricas como o Subúrbio Ferroviário e outros territórios historicamente excluídos do desenvolvimento urbano da capital, como o Bate-facho, localizado no bairro do Imbuí, onde temos instalada a nossa base do MOTIVE – Movimento Trabalhista Inovação e Vanguarda Empresarial.

Todos os nossos Movimentos Sociais trazem a expressão da experiência de seus militantes, majoritariamente vividos em Salvador, com a urgência das demandas populares e a esperança de uma representatividade autêntica no legislativo municipal.

Porém, as “Franjas Sociais” que elegeram as nossas Vereadoras e Vereadores são também um lembrete da responsabilidade que carregam: Não basta estar no poder; é essencial que as eleitas e os eleitos mantenham um compromisso com as bases que os sustentam, promovendo uma política pautada pela justiça social e pela Ética Trabalhista.

Essa representação, na perspectiva do Trabalhismo, precisa transcender as promessas eleitorais e se concretizar em ações que transformem a realidade das comunidades periféricas, entendendo que o fisiologismo, também chamado de clientelismo, é irmão gêmeo da corrupção.

Para blindar o Partido da prática do fisiologismo, é importante adotar medidas que promovam a transparência e a ética, tais como:

  1. Estabelecer um Código de Ética: Criar e implementar normas claras sobre comportamentos esperados dos membros do partido, bem como sanções para aqueles que violarem essas diretrizes;
  2. Fomentar a Participação Civil: Incentivar a participação dos cidadãos e cidadãs nas decisões do partido, garantindo que a base tenha voz ativa nas escolhas e políticas do partido;
  3. Transparência nas Finanças: Manter uma comunicação clara sobre as fontes de financiamento do partido e como os recursos estão sendo utilizados, evitando assim dependências que possam gerar clientelismo;
  4. Formação Ética e Política: Oferecer formação aos filiados sobre a importância de práticas democráticas e a responsabilidade social de sua atuação política.

O Papel da Vice-Prefeita

A reeleição da Vice-presidente do PDT-Bahia, Ana Paula Matos, como Vice-prefeita do Município de Salvador, simboliza a continuidade de um projeto político exitoso e que busca dialogar com todas as “Franjas Sociais” de Salvador, promovendo um modelo de governança participativo e  inclusivo.

Contudo, sua liderança será posta à prova: conseguirá Ana Paula Matos, em seu segundo mandato como Vice-prefeita, equilibrar os interesses políticos tradicionais do partido do Prefeito Bruno Reis (União Brasil), dos partidos de sua base política e a pressão dos cidadãos e cidadãs por resultados imediatos com a necessidade de preservar a essência do Trabalhismo?

A Vice-prefeita tem o potencial de ser o elo entre as Vereadoras e os Vereadores do PDT e as demandas da população, articulando uma agenda que priorize a educação, a geração de emprego e renda, e o fortalecimento de políticas públicas que combatam as desigualdades econômicas e sociais.

No entanto, para que isso se concretize, será necessário resistir às tentações fisiológicas e clientelistas das práticas dos partidos que nossas/os Edis são oriundas/os e que, frequentemente, esvaziam o potencial transformador de mandatos progressistas.

O Risco do Esfacelamento do Trabalhismo

A história do PDT é marcada por sua luta em defesa dos direitos trabalhistas, da educação pública de qualidade e da democracia ampla, geral e irrestrita. Entretanto, o partido enfrenta o risco de se descaracterizar, caso os mandatos de seus representantes em Salvador não reflitam os valores que o fundaram.

Uma eventual adoção de práticas fisiológicas e o distanciamento das bases populares poderiam levar ao enfraquecimento do partido na capital e, por consequência, em todo o Estado, o que  pode ser percebido pelos apoios e alianças pré-eleitorais, exemplos práticos e corriqueiros de fisiologismo para garantir cargos na futura administração.

Esse cenário não apenas comprometeria o legado Trabalhista, mas também colocaria o PDT em uma posição subalterna a grupos políticos que o tratariam como uma mera sigla de aluguel, tendo-se como referência a base política do Prefeito Bruno Reis.

Vejamos que o amplo espectro da base política do Prefeito Bruno Reis, cuja grande maioria dos partidos são vistas como legendas de aluguel, sem qualquer ideologia, lutando apenas por interesses individuais ou corporativistas.

Oportunidades e Caminhos para o Futuro

A nossa “Teoria das Franjas”, criada a partir dos nossos estudos e produção de conhecimento na área de Ciência Política, ensina-nos que as margens não são apenas espaços de exclusão ou de captura e troca de votos, mas também de potencial transformação.

O PDT tem em suas mãos a oportunidade de liderar um projeto político que dê voz às “Franjas Sociais”, na direção do que o Prof. Mangabeira Unger chama de “Capitalismo Subjetivo” e de “Pequena Burguesia Subjetiva”, cujos valores são baseados na cultura da iniciativa pessoal, do mérito individual e do empreendedorismo.

Essa categoria social é formada por “batalhadores e batalhadoras”, presentes no vácuo da política brasileira, que não buscam benefícios do Estado para ascender socialmente, que poderá ser representado por quem melhor entender as suas aspirações como classe emergente nas “Franjas Sociais”, oferecendo-lhes um projeto político do qual tanto carecem.

Para isso, é fundamental que as Vereadoras e Vereadores eleitos, assim como a Vice-prefeita, assumam a missão de implementar o Trabalhismo em sua plenitude, priorizando ações que impactem positivamente as comunidades periféricas e promovam a democracia participativa.

O futuro do Trabalhismo em Salvador, na Bahia e talvez no Brasil, depende da capacidade do PDT de honrar suas origens, resistir às pressões do fisiologismo e reconectar-se às bases populares. O desafio é grande, mas a recompensa é maior: a construção de uma sociedade mais igualitária, onde as franjas sociais sejam protagonistas de sua própria história. O momento exige coragem, imaginação e criatividade!

Este post tem um comentário

  1. Roberto Rodrigues

    Sua escrevivencia companheiro ajusto retrata uma verdade dentro do nosso partido, que precisa ser analisado pelas nossas lideranças, possibilitando mudanças de novos conceitos para o crescimento de todo o conjunto politico elevando sempre o nosso partido. As eleições de 2024, deixa uma grande reflexão para todos nós, no sentido de mantermos esse quadro em crescimento. Sendo assim, nossas lideranças e os eleitos não podem e nem devem substimar as bases do partido. Parabéns pelo excelente trabalho.

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