Não em nosso nome

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Breno Frossard, Presidente da Juventude Socialista de Novo Hamburgo – RS e Presidente de Honra do Núcleo de Base Ação Popular Revolucionária

Fui surpreendido pelos deputados do PDT que assinaram a PEC do semi-presidencialismo. Estes tomaram uma decisão que não apenas contraria a tradição do partido, mas também coloca em risco a estabilidade política do país. Como alguém que acompanha a trajetória do PDT e se inspira no legado de Leonel Brizola, é difícil não sentir uma profunda decepção com essa postura.

O semi-presidencialismo, em vez de trazer avanços democráticos, vai se tornar um instrumento de fortalecimento do centrão, esse grupo de partidos que há décadas transforma a política em um balcão de negócios. Imaginar figuras como Arthur Lira ou Hugo Motta como possíveis primeiros-ministros é um cenário que deveria assustar a todos nós. Esses nomes representam justamente o tipo de política que Brizola combateu durante toda a sua vida: uma política de barganhas, de cargos distribuídos em troca de apoio, de interesses pessoais acima do interesse público.

É verdade que o atual sistema de presidencialismo de coalizão já é problemático. Ele obriga o presidente a negociar constantemente com uma base congressista fragmentada e muitas vezes fisiológica, resultando em um governo refém de partidos que só pensam em seus próprios benefícios. Esse modelo, que deveria garantir governabilidade, acaba perpetuando a lógica do “toma lá, dá cá”, onde ministérios e cargos públicos são moedas de troca para assegurar votos no Congresso. Isso enfraquece a capacidade do governo de implementar políticas públicas consistentes e compromete a eficiência da administração federal.

No entanto, a solução para os problemas do presidencialismo de coalizão não é substituí-lo por um semi-presidencialismo que vai ampliar ainda mais o poder do centrão. Em vez de fortalecer a democracia, esse sistema pode criar um cenário ainda mais caótico, com dois centros de poder — o presidente e o primeiro-ministro — disputando influência e legitimidade. Em um país como o Brasil, onde a política já é marcada por instabilidade e polarização, isso pode ser uma receita para o desastre.

Não podemos esquecer que o PDT tem uma história de resistência ao parlamentarismo. Brizola, em sua histórica Campanha da Legalidade, defendia um presidencialismo forte e democrático, capaz de garantir a governabilidade e a implementação de políticas públicas sem se submeter aos caprichos de uma base congressista fisiológica. Ele sabia que o parlamentarismo, ou qualquer sistema que dividisse o poder executivo, poderia ser uma armadilha para enfraquecer o presidente e entregar o país às mãos de grupos que pouco se importam com o povo.

Por isso, é inaceitável que deputados do PDT, partido que carrega o nome e o legado de Brizola, tenham assinado em favor de uma proposta que vai na contramão de tudo o que ele defendia. Essa decisão não representa os ideais do PDT, nem os anseios daqueles que acreditam em uma política verdadeiramente democrática e popular.

Aos deputados que votaram a favor do semi-presidencialismo, digo: não foi em nosso nome. Não foi em nome dos trabalhadores, dos jovens, dos que lutam por um país mais justo e soberano. Não foi em nome de Brizola, que certamente estaria hoje ao lado dos que defendem um presidencialismo forte e comprometido com o povo.

O PDT precisa urgentemente refletir sobre esse episódio e reafirmar seu compromisso com os valores que sempre o guiaram. Caso contrário, corre o risco de se perder em meio a jogos políticos que só servem para fortalecer aqueles que há muito deveriam estar fora do poder.

Não em nosso nome. Não no nome de Brizola.

Este post tem um comentário

  1. Rafæl da Fontoura

    Todo apoio, Breno! Essa palhaçada, essa vergonha, esse retrocesso que nada tem conosco, só pode representar o pior de uma infiltração reacionária no PDT. Contra toda forma de parlamentarismo! Viva a República Presidencialista, que sempre foi defendida pelos Trabalhistas desde a origem!

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